sexta-feira, abril 13, 2007

Os estudos do Eng. José Sócrates

Parece-me que o Doutor Francisco Louçã esteve muito bem ao observar que, neste affaire da escolaridade do nosso primeiro-ministro, importa ficar esclarecido se o Eng. José Sócrates contou com algum favorecimento da Universidade Independente, ou se a veio a beneficiar enquanto governante. Diga-se de passagem que Louçã voltou a estar bem ontem, ao concluir que considerava o assunto encerrado.

Encerrado ou encerado?!

Fiquei com algumas dúvidas, depois da entrevista de quarta-feira. Tendo concluido o Bacherato em Engenharia Civil no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, José Sócrates veio a ingressar no curso de Comunicação e Transportes do ISEL, tendo realizado 10 cadeiras durante um ano lectivo. Isto significa que José Sócrates não esteve a estudar engenharia civil no ISEL! Portanto, se mudasse de ideias e quisesse voltar ao curso de engenharia civil, teria de se inscrever no respectivo CESE e estudar mais 2 anos lectivos (suponho que 1 ano lectivo do CESE em Comunicação e Transportes pouco terá a ver com 1 ano lectivo no CESE em Engenharia Civil).

Resumindo: com a transferência do ISEL para a UI Sócrates conseguiu substituir um CESE de 2 anos em Engenharia Civil (o que corresponde ao aproveitamento a cerca de 20 disciplinas), pelo aproveitamento a 5 disciplinas (o que, se forem semestrais, corresponde a 1 semestre de estudos). É obra!

A entrevista foi má. As disciplinas feitas na UI foram anuais ou semestrais? José Alberto de Carvalho insistiu absurdamente no facto de Sócrates ter ingressado nos seus estudos na UI sem ter entregue atempadamente o certificado de habilitações do ISEL. So What? Na entrevista o primeiro-ministro mostrou que agiu de boa-fé - o que já era sobejamente sabido - visto que a informação que tinha prestado à UI sobre o seu aproveitamento no ISEL era fidedigna. Ora o que importava que tivesse ficasse esclarecido na entrevista era se a legalidade tinha sido respeitada. E isso não ficou esclarecido. E, aparentemente, a lei obriga a que um processo de transferência seja devidamente documentado antes do estudante reiniciar os seus estudos. Ora, a ser verdade isto, o primeiro-ministro na sua vida privada considera que uma lei pode ser desrespeitada, desde que implique desconfiança na sua palavra. E esta situação faz lembrar a de António Vitorino, que não respeitou a lei numa declaração fiscal, embora tenha pago mais imposto do que se o tivesse feito...

E a entrevista também foi má por outra razão. Os entrevistadores deixaram o primeiro-ministro debitar minutos a fio um discurso agressivo, previamente decorado, como os maus alunos que despejam nos testes pedaços decorados ou copiados dos apontamentos das aulas ou dos manuais (vulgo "atirar barro à parede"). É desgastante ouvir José Sócrates. Só me interrogo se o primeiro-ministro utiliza o mesmo tom quando fala com os seus colegas nos Conselhos Europeus. Se não o faz, por que razão o faz quando se dirige ao eleitorado que o elegeu?!

terça-feira, abril 03, 2007

PT - a tua lição foi ignorada!

"A teoria da agência é fundamental para o enquadramento da corporate governance. Procura-se por diversos meios alinhar os interesses dos gestores com os dos accionistas. Isso pode ser feito através das estruturas e órgãos societários, bem como através de sistemas de gestão e avaliação da performance, incluindo sistemas de remuneração e incentivos."
João Carvalho das Neves, "Governance e teoria da agência", Diário de Notícias de 8 de Novembro de 2006, disponível on-line.

O que é que esta citação tem a ver com a PT e com a EDP? Tudo!

Um exemplo clássico da teoria da agência é o do taxista que trabalha por conta de outrém. Quando o "agente" (o taxista) tem uma pequena receita diária, como é que o "principal" (o proprietário do táxi) pode saber se o agente mandreou ou se se esforçou, mas foi realmente um dia mau para arranjar clientes? É este o problema estudado pela teoria da agência. No caso da gestão empresarial, trata-se de garantir que o conselho de administração (o "agente") vela pelo interesse dos accionistas (o "principal"), a saber, o aumento do valor da empresa. Mas os administradores, além dos salários sumptuários e fantásticos fringe benefits mais ou menos escondidos, podem ter interesse em expandir a empresa, não tanto para criar valor, mas mais como um toy que traz poder.

Olhando para a PT, claro que estou a referir-me à expansão da empresa na América Latina e em África. Será esta expansão consentânea com a criação de valor? Talvez sim, talvez não. Mas os accionistas da PT não precisam da administração da PT para investirem nesses mercados! Se o quiserem, podem comprar acções das empresas locais, ou unidades de fundos de investimentos centrados nesses mercados de telecomunicações. Os accionistas da PT, precisam, sim, é de rendibilidade nos investimentos que fizeram na empresa.

Um mérito da OPA da Sonae sobre a PT foi precisamente o de centrar a empresa nos interesses dos accionistas. Como é que o fez? Com cortes nos custos de administração da empresa e com a promessa de aumentar o pagamento de dividendos. E este aumento dos dividendos significa na prática uma menor retenção dos lucros, e portanto menor investimento no estrangeiro, com capitais próprios "sonegados" aos accionistas.

Um bom exemplo, portanto, o da Administração da PT, na sequência da OPA, que terá satisfeito os investidores da empresa e que por isso rejeitaram a desblindagem dos estatutos da empresa.

E o que acaba de fazer a EDP? Precisamente o contrário! A eléctrica portuguesa acaba de comprar a empresa norte-americana de parques eólicos Horizon Wind Energy. "Segundo um comunicado hoje [27 de Março] emitido pela EDP, o preço a pagar pela Horizon Wind Energy será de 2,15 mil milhões de dólares (1,61 mil milhões de euros) mais a dívida da empresa de 180 milhões de dólares (134,8 milhões de euros), sendo este ajustado tendo em conta os investimentos adicionais da companhia, no montante de 600 milhões de dólares (449,5 milhões de euros). Os peritos calculam que o valor final da empresa deverá rondar os 2,2 mil milhões de dólares (1,64 mil milhões de euros).", lemos no site do Diário Económico.

Resumindo, a OPA que destituiria a Administração da PT foi o incentivo para ela trabalhar para os accionistas. Aparentemente a EDP também precisa do mesmo incentivo...
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