Duas questões
David Grossman (n. 1954), escritor israelita, em entrevista a Alexandra Lucas Coelho (jornal Público, 28 de Maio de 2005), a propósito do seu livro "Ver: Amor".
O Tratado da Constituição Europeia preconiza diversas alterações na repartição do poder na UE, nomeadamente a eleição de um Presidente do Conselho Europeu, a tomada de decisões por maioria qualificada no Conselho de Ministros (ou seja, por 55% dos Estados membros - isto é 14 - correspondendo a 65% dos 450 milhões habitantes), e a eleição do Presidente da Comissão Europeia pelo Parlamento Europeu, sob proposta do Conselho Europeu.
A Comissão Europeia deve reduzir o número de Comissários, dos actuais 25 para 18. A redução do número de Comissários significa que 7 dos países membros (ou pelo menos 7 desses países!), não poderão designar um cidadão nacional para esse órgão da soberania europeia. Como vai ser determinada essa exclusão?
Suponhamos que o Presidente da Comissão Europeia, eleito pelo Parlamento Europeu, emerge da família política mais votada (seja do Partido dos Socialistas Europeus (PSE), do Partido Popular Europeu (PPE), do Grupo do Partido Europeu dos Liberais, Democratas e Reformistas (ALDE) ou ainda da Aliança Europeia (AE)). E que os 18 países que designarão comissários estarão entre aqueles que votaram maioritariamente na família vencedora. Nesse caso não poderá acontecer uma situação parecida com o concurso de Keynes?
O Partido Socialista, em Portugal, poderá alegar nas eleições para o Parlamento Europeu que provavelmente a sua família política irá sair vencedora, e portanto os portugueses têm interesse em votar nele para assim garantirem um Comissário português. E semelhantes especulações poderá fazer o PSD. Claro que estas discussões ainda empobrecerão mais o debate europeu; em vez de discutirmos estratégias políticas, sociais e económicas para a Europa, discutiríamos sondagens...
Espero que os debates sobre o Tratado da Constituição Europeia venham a esclarecer melhor estas questões.
Saíu e a ruiva olhou-me com as faces coradas. Logo a seguir deixou a maleta sobre o cadeirão com uma certa falta de jeito e de dentro dela caíram vários livros. Li os títulos: The intelectual and the masses, de John Carey, numa edição de Faber & Faber; Under the vulcano, de Malcom Lowry, e a poesia completa de Ezra Pound. Fiquei surpreendido e olhei-a nos olhos. A Cindy voltou a corar e apanhou os livros sem dizer palavra. (p.95)
Voltei para casa confundido, cansado e vagamente apaixonado. Apaixonado pela Cindy, deduz-se, porque tinha passado tudo muito depressa e a verdade é que sempre sonhara com uma mulher que gostasse de Debaixo do Vulcão. (p.97)
Santiago Gamboa, Tragédia do homem que amava nos aeroportos, in Contos Apátridas, ASA, 2000. E se uma teia amorosa obrigasse a amores nos aeroportos?!...