quinta-feira, novembro 24, 2005

O sucesso económico dos governos do Eng. Guterres (1995-2001)

O peso do endividamento das famílias no respectivo rendimento disponível aumentou cerca de 50 pontos percentuais, com a correspondente pressão sobre o PIB e sobre a BTC. O Estado também ajudou à festa, não tendo aproveitado esse período de ouro para equilibrar o OE. Mas se o Prof. Cavaco Silva nunca se preocupou verdadeiramente em fazê-lo, por que razão o faria o Eng. Guterres?...

Adenda
Finalmente o reconhecimento oficial! Ainda por cima pela mão de um economista português, Orlando Abreu: http://ec.europa.eu/economy_finance/publications/country_focus/2006/cf16_2006en.pdf

segunda-feira, novembro 21, 2005

Eventos... E será que nunca mais aprendemos?

Os portugueses vêem-me como alguém que faz aquilo que diz, como uma pessoa de palavra. Vêem-me como uma pessoa rigorosa, exigente. Ora esses elementos são importantes para ajudar a criar confiança. Mas não é só o Presidente que ajuda a criar confiança. A acção do Governo também é determinante. Não vislumbro outro evento, para além destas eleições presidenciais, que nos próximos anos possa trazer uma dose adicional de esperança. Antes, dizia-se que o país ia mal, mas iamos aderir à UE [1986]. Depois que não estávamos bem mas que vinha aí o mercado único [1992]. A seguir depositou-se esperanças na adesão ao Euro [1999]...

Entrevista de Cavaco Silva a José Manuel Fernandes e Nuno Sá Lourenço, Público, 21 de Novembro de 2005.

domingo, novembro 20, 2005

Cowboys & Angels...

... um bom filme de David Gleeson. Sabe bem vê-lo, sobretudo depois do "Procura-se Alice".

terça-feira, novembro 15, 2005

As aulas de substituição

A introdução de aulas de substituição no ensino secundário tem sido polémica. Os professores estão contra. Os alunos também, porque são privados de alguns momentos livres, determinados pelas faltas dos docentes. Os pais estarão indiferentes?

Como é que este modelo seria interessante? Acho que para ser útil era necessário que o professor substituto e os alunos se empenhassem em discutir matérias que normalmente não são abordadas nas aulas "regulares". É como se fosse um momento livre, para se ter uma conversa sobre um tema, escolar ou extra-escolar.

Em termos mais comezinhos suponho que a eficiência do modelo se vai avaliar na taxa de absentismo dos professores. Imagino que é a sua redução que anima o Ministério.

Qual é o efeito da existência de aulas de substituição sobre o absentismo dos professores? Pelo menos devem existir dois efeitos. Por um lado os professores mais faltosos deverão sentir a pressão dos colegas para não faltarem tanto, visto que a sua falta sobrecarrega-os com mais trabalho. Por outro lado os professores menos faltosos poderão ripostar faltando mais, para não ficarem tão prejudicados. Se o primeiro efeito se sobrepuser, o absentismo baixa; no caso contrário as aulas de substituição serão um bocadinho perversas ao nível da assiduidade. O que é que estará a acontecer? Haverá alguma tendência bem definida?

Se em média cada professor falta a duas aulas por mês, então, em média, deverá dar duas aulas de substituição. Seria justo que o professor que não faltou a nenhuma aula, também não desse nenhuma aula de substituição. Se esta disciplina fosse implementada, o absentismo deveria diminuir.

segunda-feira, novembro 14, 2005

O ónus do incumprimento

A pretensão do BCP em transferir para a Segurança Social os activos e as responsabilidades do Fundo de Pensões do banco configura uma transferência do ónus do default: como o banco quer evitar o reforço da provisão do fundo, transfere para a Segurança Social o papel desagradável. O incumprimento das promessas laborais do banco ficará diluído na luta geral do Estado contra os "privilégios".

sexta-feira, novembro 11, 2005

Esboço (incompleto...) de um figurino para os debates presidenciais

Existem muitos figurinos para organizar os debates entre os 5 candidatos presidenciais, envolvendo as 3 televisões com sinal aberto. Mas claro que existem diversas restrições que limitam as possibilidades - em particular parece que há uma preferência por debates envolvendo apenas dois candidatos e, claro está, nenhum candidato quer admitir uma secundarização da sua visibilidade.

Nesta proposta consideraram-se algumas hipóteses: são realizados 10 debates, cada um envolvendo 2 candidatos e cada debate é transmitido por um canal televisivo. Dois canais emitirão, cada um deles, 3 debates e a um terceiro canal caberá a transmissão de 4 debates.

A ordem dos debates, e a ordem dos canais emitentes, são escolhidas aleatoriamente, sem primazia de nenhum interveniente.

Para decidir a "sorte", são utilizados os sorteios do Euromilhões e do Totoloto.

a) A escolha dos canais de televisão
A sequência dos canais de televisão é determinada pelo sorteio das estrelas numeradas do Euromilhões, de acordo com o seguinte esquema:
Sequência A: R S T R S T R S T R - 1ª estrela retirada: 1, 2 ou 3;
Sequência B: S T R S T R S T R S - 1ª estrela retirada: 4, 5 ou 6;
Sequência C : T R S T R S T R S T - 1ª estrela retirada: 7, 8 ou 9.
Admitamos, por exemplo, que a primeira estrela extraída no concurso é a nº7, o que elege a sequência C; nesse caso caberá à TVI a realização de 4 debates, começando e acabando a série de debates presidenciais. A segunda estação a emitir um debate será a RTP, a 3ª a SIC, e assim sucessivamente.

b) Os 10 debates possíveis
Admitamos a seguinte ordenação de trabalho dos debates: AC, AJ, AL, AS, CJ, CL, CS, JL, JS, LS. A legenda é a seguinte: A - Manuel Alegre; C - Cavaco Silva; J - Jerónimo de Sousa; L - Francisco Louçã; S - Mario Soares.

c) O apuramento do primeiro debate
O primeiro debate é determinado pelo primeiro número extraído no Euromilhões, de acordo com a seguinte chave:
AC - Euromilhões: 1 a 5; AJ - Euromilhões: 6 a 10; AL - Euromilhões: 11 a 15; AS - Euromilhões: 16 a 20; CJ - Euromilhões: 21 a 25; CL - Euromilhões: 26 a 30; CS - Euromilhões: 31 a 35; JL - Euromilhões: 36 a 40; JS - Euromilhões: 41 a 45; LS - Euromilhões: 46 a 50.

d) Apuramento dos 9 ulteriores debates
Sugestões?...

quinta-feira, novembro 10, 2005

Sabendo que se existirem 10 candidatos...

...presidenciais são necessários 45 debates para todos debaterem com todos, em debates com 2 candidatos, quantos debates, nas mesmas condições, serão necessários se existirem 11 candidatos? Responder sem recurso a factoriais nem a outros meios complicados das matemáticas combinatórias.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Palavras tresmalhadas

Rainer Maria Rilke forneceu-lhe a ideia e Proust deu-lhe o título?
Habituei-me a escrever já com um título e chamei-lhe O Sorriso da Morte, apesar de não gostar, consciente de que se tratava de algo provisório e também pela ironia que sabia que iria usar. E, porque o que a morte me diz é intermitente, mais tarde recordei que Proust, em La Recherche..., fala das intermitências do amor. Que o amor seja intermitente parece que é uma experiência de todos nós. Agora que a morte o seja... Porque gastamos tanto tempo a perguntar o que há além da vida? Se nos interrogássemos sobre o que realmente se está a passar aqui na vida, no tempo que nos calhou.
É a grande questão?
Sim. É disso que se fala. No livro, o primeiro-ministro põe essa questão se isto continua assim como é que vamos pagar as pensões.

Essa é apenas uma das muitas questões concretas que se colocam quando a morte deixa de matar. Nesse exercício, quase ensaístico, fala dos "pantanosos terrenos da realpolitik".
A expressão é aplicada no sentido do pragmatismo absoluto, excluindo questões de princípios e atendendo apenas ao que convém a cada momento. Portanto, subindo e descendo, oscilando, segundo a maré. Mas pode ser entendido de maneira extrema, como é o caso. Para cumprir determinado fim, o Estado não hesita em fazer um acordo com a "máphia" com ph, mas não deixa de ser máfia por isso.
É a morte a jogar o seu jogo, o que por sua vez justifica um jogo de palavras?
É. Escrever "máphia" com ph deu--me um certo gozo. É um anacronismo. Não sei como é que as traduções vão resolver a questão. Provavelmente não podem. Por exemplo, em alemão os substantivos escrevem-se com letras maiúsculas. Eu andei a pôr os nomes das pessoas com minúsculas, tudo minúsculo. Para manterem essa lógica, teriam de transgredir as suas próprias regras. Não creio que o tradutor esteja disposto a isso porque não seria compreendido, mesmo que explicasse que seguia o original. Nem sei se a questão de traduzir o título para alemão já está resolvida.
Então?
Eles usam a expressão "luz intermitente", mas não têm uma forma para dizer As Intermitências da Morte. Pelos vistos o português é muito mais rico em cambiantes e nuances. A nossa língua tem uma plasticidade que algumas vezes falta a outras e que permite jogos.
Os tais jogos que lhe deram prazer jogar neste livro?
Deram. Foi um livro escrito com alegria. Falar da morte e dizer que o fiz com alegria. É uma alegria que vem não só pelo tom irónico, sarcástico às vezes, divertido, mas também porque é como se me sentisse superior à morte dizendo-lhe "Estou a brincar contigo."


Excerto da entrevista de José Saramago a Helena Lucas, DN de 9 de Novembro de 2005, a propósito do lançamento de "As Intermitências da Morte".

E como seria a memória num ambiente de imortalidade? Não aconteceria um envelhecimento das novas gerações, um apagamento do novo, que sobranceria sob o peso do velho? Lembro-me daquela imagem de Vitorino Magalhães Godinho, em que num caminho se cruza um carro de bois ancestral com um automóvel moderno, ao mesmo tempo que o céu é riscado por um avião. No caso da imortalidade, o caminho estaria pelejado de carros de bois, interditando os automóveis? O entusiasmo seria vencido por uma sabedoria destilada pela velhice?

O Daniel 25 de "La possibilité d'une île" de Michel Houellebecq é o vigésimo-quinto clone do Daniel originário, que conhece também uma espécie de imortalidade - e essa imortalidade, no romance de Houellebecq, não é nada inócua sobre a vivência da pessoa.

terça-feira, novembro 08, 2005

Pizza caseira

Ingredientes
- 300 g de farinha
- 1 colher de chá de açucar
- 1,4 dl de água tépida
- 1 colher de sopa de azeite
- 10 g de fermento de padeiro
- 1 pitada de sal
- polpa de tomate, manjericão, orégãos, piri-piri, sal, cebola, queijo (mozarella, da ilha), cogumelos frescos fatiados, pimento, espargos, brócolos, fiambre, azeitonas, azeite, sei lá!

Preparação
1. Dissolver o fermento em metade da água tépida a que se juntou o açucar, e colocar num lugar tépido; deixar repousar durante 5 a 10 minutos, devendo a mistura ficar espumosa - o que significa que as bactérias do fermento estão bem vivas. Deitar a farinha numa tigela, juntar e misturar a pitada de sal, abrir um poço no meio da farinha e verter aí a restante água, o azeite e a mistura com o fermento. Trabalhar a massa uns 10 minutos até ficar elástica e sem colar aos dedos, formar uma bola que se deita numa tijela untada de azeite, rola-se a bola na tijela para ficar oleada, faz-se uma cruz na parte de cima com uma faca afiada e deixa-se levedar coberta com um pano num ambiente tépido durante 1h a 1h30. Depois da massa dobrar de volume é ligeiramente trabalhada para regressar ao volume inicial e pode ser cortada ao meio, para permitir fazer duas pizzas com uns 25 cms de diâmetro, fininhas e estaladiças.
2. Amaciar a cebola cortada em meias-luas, tiras de pimento e os raminhos de brócolos num pouco de azeite e num lume suave; salgar. Estender a massa, que se coloca numa forma oleada e enfarinhada. Cobrir a base de massa com polpa de tomate temperada de sal, polvilhar com manjericão, orégãos e algum piri-piri, dispôr a cebola, e polvilhar com queijo. Depois dispõem-se os outros ingredientes. Deitar um fiozinho de azeite para abençoar.
3. Cozer na parte de baixo do forno aquecido previamente a 250º ou 270º, durante uns 10 a 15 minutos. Acompanhar com uma salada verde.

segunda-feira, novembro 07, 2005

A "racionalização burocrática"

Max Weber foi o primeiro sociológico para quem "o capitalismo e a sociedade moderna em geral" são caracterizados avant tout pela "racionalização burocrática". Ele não considera a revelação socialista (na época ainda um projecto) nem perigosa nem salutar, mas simplesmente inútil porque é incapaz de resolver o problema principal da modernidade, a saber, a burocratização (bürokratisierung) da vida social que, segundo ele, prosseguirá inexoravelemente qualquer que seja o sistema de propriedade dos meios de produção.

Weber formula as suas ideias sobre a burocratização entre 1905 e a sua morte em 1920. Sou tentado a observar que um romancista, na ocorrência Adalbert Stifter, teve consciência da importância fundamental da burocracia cinquenta anos antes do grande sociólogo. Mas interdito-me de entrar na controversia entre a arte e a ciência sobre a prioridade das suas descobertas, pois uma e a outra não visam a mesma coisa. Weber fez uma análise sociológica, histórica, política do fenómeno da burocracia. Stifter coloca-se uma outra questão: viver num mundo burocratizado, o que é que isso significa in concreto para um homem? como é que a sua existência é transformada?

Milan Kundera, Le rideau, Gallimard, 2005, pp. 156,157.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Cinco apostas bolsistas

Na revista de economia do Público de anteontem eram dadas 5 apostas para o mercado accionista: Impresa (cotação actual: 4,75€), PT Multimédia (8,8€), Mota-Engil (3,15€), Semapa (5,7€) e Corticeira Amorim (1,33€). Respectivamente estas acções tiveram as seguintes rendibilidades nos últimos 12 meses: 1,1%, -0,61%, 82,9%,39,6% e 23,6%. Se o mercado financeiro fosse eficiente estas indicações seriam infudadas - salvo se os jornalistas Bruno Faria Lopes e David Almas tivessem informações confidenciais sobre o mercado ainda não descontadas nas cotações - mas, segundo Warren Buffet, a eficiência dos mercados é uma miragem.
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