quarta-feira, dezembro 28, 2005

Fundamentalismo islâmico

(...) No Islão nunca houve qualquer alusão ao suicídio. Os muçulmanos estão proíbidos de praticar o suicídio! O assassínio é igualmente proibido. Portanto, continua a ser um um mistério para mim perceber como é que se chega a uma situação em que o fundamentalismo islâmico leva estas pessoas a fazerem o que fazem. (...) Por exemplo um jovem iraquiano, ou sírio ou jordano ou um jovem marroquino podem sacrificar a sua juventude, os seus 20 anos, colocando um cinto de bombas e fazendo-se matar num café ou numa pizaria. É algo que não percebo.

Tahar Ben Jelloun em entrevista a Carlos Vaz Marques, DNa, 18 de Novembro de 2005.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

A dignidade humana

(...)
Risa Sodi - Fiquei impressionada com as cartas que os leitores alemães de Se isto é um homem lhe escreveram depois do livro ter sido publicado em alemão. A maior parte mencionava o episódio do guarda alemão que limpou a mão na sua camisa. No seu entender, por que razão este episódio marcou tanto os leitores alemães?
Primo Levi - Foi um gesto particularmente simbólico, por isso impressionou tanta gente, eu em primeiro lugar. Não foi um gesto doloroso: uma pancada na cara ter-me-ia feito muito pior. O facto é que ele se serviu de mim como de um pano velho. Posteriormente, e ainda hoje, sinti esse gesto como a mais grave injúria que alguma vez recebi.
Que peso esses insultos tiveram na sua dignidade?
Bom, ao princípio, tiveram um certo peso, porque o pior estava para vir. Era uma espécie de prólogo. De seguida, evidentemente, habituámo-nos. Tornou-se uma rotina.
"Habituar-se"... isso significa o quê, de um ponto de vista moral e espiritual?
Claramente isso significa perder a sua humanidade. A única maneira de sobreviver é a de se acostumar à vida no campo, mais isso também priva a pessoa de uma parte da sua humanidade. Isso toca tanto os prisioneiros como os guardas. Nenhum grupo era mais humano que os demais. Fora algumas raras e preciosas excepções, a inumanidade do sistema nazi contaminava mesmo os prisioneiros.
Como se recupera a sua humanidade?
Lembra-se das últimas páginas de Se isto é um homem? Eu conto as circunstâncias em que recuperei um sentimento de humanidade, quando com um companheiro de cativeiro conseguimos ir em auxílio dos doentes e dos moribundos, num momento em que nós próprios estávamos doentes. Nunca deixei de manter uma sólida relação de amizade com Charles, o francês que me ajudou; continuamos a escrever-nos. Visitei-o duas vezes, apesar de ele habitar em França numa região afastada de difícil acesso. Se a nossa amizade sobreviveu, é porque nós tivemos, um e o outro, a impressão de viver uma aventura importante: nós tentámos salvar vidas humanas. O nosso cativeiro tinha terminado (mas ainda nos encontrávamos em Auschwitz). Estávamos muito doentes, mas conseguimos preparar um forno, cozinhar para dez pessoas, e tentámos ajudá-las a sobreviver um pouco mais de tempo. Sentimos verdadeiramente que recuperávamos a nossa dignidade ajudando os outros. E os outros também o sentiram. Esses pobres doentes, alguns a dois passos da morte, davam-nos fatias de pão que já não podiam comer. Isso também era um gesto humano, diferente do que se tinha passado anteriormente.
(...)

Risa Sodi, "An interview with Primo Levi", Partisan Review, vol. LIV, 3, 1987, reproduzida em Primo Levi, Œuvres, Éditions Robert Laffont, Paris, 2005.


sexta-feira, dezembro 16, 2005

Voyeurismo?

O debate entre os candidatos presidenciais Mário Soares e Manuel Alegre, na TVI, fez 18,8% de audiência média, o que mostra que foi seguido por 1,730 milhões de portugueses. Foi o programa mais visto do dia e o frente-a-frente presidencial mais seguido, até ao momento.

Marina Almeida, Debate Soares/Alegre foi programa mais visto, DN, 16 de Dezembro de 2005.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Mensagens alternativas

1) "Sei que Portugal pode vencer"
2) Sei que Portugal pode vencer
3) "Sei que os Portugueses podem vencer"
4) Sei que os Portugueses podem vencer

A primeira mensagem foi a escolhida pela candidatura de Cavaco Silva.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

TGV, Ota, Energia, Mar

"Há uma energia enorme sobre TGV e Ota e eu preferia que houvesse uma energia enorme sobre a energia e o mar."
Elisa Ferreira, Eurodeputada do PS, Jornal Público, 14 de Dezembro de 2005.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Ruy Luís Gomes (1905-1984)

Comemora-se hoje o centenário do nascimento de Ruy Luís Gomes, um dos maiores matemáticos portugueses do século XX, licenciado e doutorado pela Universidade de Coimbra. Perseguido pelo regime de Salazar veio a exilar-se na Argentina e posteriormente no Brasil. Regressou ao país depois do 25 de Abril.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

O autêntico. O autêntico?

Em casa de G. T., de roda de uma garrafa de whisky, reatam-se os ataques contra a literatura que tem por fito o êxito. Existe, dizem eles, uma cultura americana autêntica, herdeira da cultura europeia à qual está directamente ligada: foram, no século passado, Thoreau, Whitmann, Melville, Hawthorne, Henry James, Crane (não citam Edgar Poe, nunca o citam: afigura-se-me que é um escritor francês); mais perto de nós, há Wolfe, Fitzgerald. É essa uma literatura civilizada, que procura ao mesmo tempo a perfeição formal e uma percepção profunda do mundo. À excepção de Faulkner, todos os escritores que apreciamos em França se opõem a esta tradição. Caíram num realismo superficial e sem beleza. A descrição do comportamento das personagens substituiu a psicologia em profundidade, e a exactidão documentária, a imaginação e a poesia. Hemingway ou Wright, comparados a James Joyce, por exemplo, não trazem nada de novo: contam histórias, e é tudo. Se nós apreciamos os livros deles é por uma espécie de condescendência. (...) É esta condescendência que nos faz colocar num mesmo plano Dashiel Hammet, James Caïn, que são aqui desprezados, Mac Coy, ignorado totalmente, e um Faulkner. Divirtamo-nos com a leitura dos romances policiais, se quisermos, com os de Steinbeck e de Dos Passos se formos disso capazes, mas do mesmo modo que nos divertimos com os filmes de Hollywood, que o próprio G.T. vê com prazer quando está fatigado, mas aos quais ninguém sonha em atribuir valor artístico.

Simone de Beauvoir, A América dia a dia, Editora Arcádia, s.d. (original de 1947), pp. 58,59.

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