Fundamentalismo islâmico
Tahar Ben Jelloun em entrevista a Carlos Vaz Marques, DNa, 18 de Novembro de 2005.
Em casa de G. T., de roda de uma garrafa de whisky, reatam-se os ataques contra a literatura que tem por fito o êxito. Existe, dizem eles, uma cultura americana autêntica, herdeira da cultura europeia à qual está directamente ligada: foram, no século passado, Thoreau, Whitmann, Melville, Hawthorne, Henry James, Crane (não citam Edgar Poe, nunca o citam: afigura-se-me que é um escritor francês); mais perto de nós, há Wolfe, Fitzgerald. É essa uma literatura civilizada, que procura ao mesmo tempo a perfeição formal e uma percepção profunda do mundo. À excepção de Faulkner, todos os escritores que apreciamos em França se opõem a esta tradição. Caíram num realismo superficial e sem beleza. A descrição do comportamento das personagens substituiu a psicologia em profundidade, e a exactidão documentária, a imaginação e a poesia. Hemingway ou Wright, comparados a James Joyce, por exemplo, não trazem nada de novo: contam histórias, e é tudo. Se nós apreciamos os livros deles é por uma espécie de condescendência. (...) É esta condescendência que nos faz colocar num mesmo plano Dashiel Hammet, James Caïn, que são aqui desprezados, Mac Coy, ignorado totalmente, e um Faulkner. Divirtamo-nos com a leitura dos romances policiais, se quisermos, com os de Steinbeck e de Dos Passos se formos disso capazes, mas do mesmo modo que nos divertimos com os filmes de Hollywood, que o próprio G.T. vê com prazer quando está fatigado, mas aos quais ninguém sonha em atribuir valor artístico.
Simone de Beauvoir, A América dia a dia, Editora Arcádia, s.d. (original de 1947), pp. 58,59.