sexta-feira, junho 30, 2006
As provas nacionais 435 e 635 de Matemática do 12º (1ª fase, 27 de Junho) - e que engraçado, os dois exames foram iguaizinhos - trouxeram uma inovação no grupo de perguntas de escolha múltipla, formado por 7 questões, cada uma com uma cotação de 9 pontos (total da prova: 200 pontos). No caso de uma resposta errada já não são descontados 3 pontos; não se verifica qualquer penalização. O desconto de 3 pontos, que valeu até ao ano passado, permite que uma pergunta com cotação de 9 pontos tenha uma cotação esperada nula, quando ela é respondida ao acaso e tem 4 respostas alternativas. Talvez esta penalização seja excessiva - um aluno pode chegar a uma resposta que "não está muito errada" (!), escolhe a alternativa correspondente, que é ardilosamente providenciada, e tem uma nota negativa na questão, tal como um colega que escolheu arbitrariamente uma resposta errada. Mas parece-me absurdo transformar o grupo numa espécie de lotaria, sem qualquer tipo de penalização. É um prémio à ignorancia e uma espécie de free lunch. Aliás se toda a prova fosse de escolha múltipla, e apenas com duas alternativas para cada pergunta, a nova regra era evidentemente impraticável. Acho que mais valia que as alternativas erradas das respostas fossem "muito" erradas, raramente seleccionadas pela realização dos erros mais frequentes.
segunda-feira, junho 26, 2006
domingo, junho 25, 2006
Uma tipologia dos bloguistas
Leio blogs há três anos e o Apontameento acaba de fazer um ano. Há blogs para todos os gostos. A blogolândia é rica em diversidade. Como fazer uma tipologia? Poderíamos pensar numa de cariz temático, como faz o Sapo. A minha tipologia tem um toque sociológico. Acho que se podem distinguir 5 tipos de bloguistas:
Tipo A: Acompanha a blogolândia, eventualmente escrevendo comentários nos blogs que lê. Não tem um blog seu;
Tipo B: Edita um blog com caixa de comentários e costuma escrever comentários nos blogs alheios;
Tipo C: Edita um blog com caixa de comentários, não escreve comentários nos blogs alheios e eventualmente faz um link a um post publicado num blog amigo;
Tipo D: Edita um blog sem caixa de comentários e não redige comentários nas caixas alheias, podendo, eventualmente, fazer um link para um post da blogolândia;
Tipo E: Escreve nos jornais.
Actualmente de que tipo é o leitor? Eu sou tipo B. Vejamos alguns exemplos.
O José Pacheco Pereira (Abrupto) é um híbrido, aliás diria mesmo um duplamente híbrido e portanto começo com um exemplo difícil. É D e E e, ao mesmo tempo, também é C. Embora não tenha caixa de comentários publica frequentemente emails que lhe são dirigidos, e que por vezes espelham opiniões contraditórias com o seu pensamento. E, claro, é cronista da imprensa. Rui Curado Silva (Klepsýdra) é C, suponho. Alexandre Andrade (Um blog sobre kleist) é D. Rui Martins (Quintus), que me prodigaliza com os seus pertinentes comentários, é B. A desaparecida Joana (Semiramis) era C e os comentários eram bastante interessantes.
Um case study é o de Constança Cunha e Sá e de Vasco Pulido Valente (Espectro). Quando começaram o seu blog disseram que pretendiam criar um espaço de discussão e, por isso, consentâneamente, foram C. Claro que as caixas de comentários descambaram e, passados dois meses, os bloguistas encerraram o seu espaço de discussão, alegando falta de tempo. E fizeram também uma observação subtil - "estes meses de blogue foram um prazer e, sobretudo, uma educação". A solução de Pacheco Pereira de boa receptividade de feed back, mas por email, é muito mais eficaz.
Durante a campanha presidencial os apoiantes de Mário Soares e de Cavaco Silva animaram dois blogs: o Super Mário e o Pulo-do-Lobo. E se o Dr. Mário Soares acusava o seu adversário Prof. Cavaco Silva de não querer discutir, a verdade é que o blog dos seus apoiantes não tinha caixa de comentários e o Pulo-do-Lobo tinha...
Agora a questão é: por que razão um bloguista é B e não C? Por que é C e não D? Discerno duas hipóteses. Porque realmente tem mais prazer em ser B do que C ou D, ou então porque acha que isso lhe é favorável para as audiências.
Uma outra tipologia dos bloguistas poderia basear-se no tipo de tracking presente no blog. No Apontamento tive activo o Extreme-tracking, que eliminei há umas semanas. Estava farto do Extreme-tracking, que me parece demasiado extremoso, e tenciono instalar um sistema mais soft (sugestões são bem-vindas). Claro que seria interessante analisar a correlação entre estas duas tipologias alternativas.
Tipo A: Acompanha a blogolândia, eventualmente escrevendo comentários nos blogs que lê. Não tem um blog seu;
Tipo B: Edita um blog com caixa de comentários e costuma escrever comentários nos blogs alheios;
Tipo C: Edita um blog com caixa de comentários, não escreve comentários nos blogs alheios e eventualmente faz um link a um post publicado num blog amigo;
Tipo D: Edita um blog sem caixa de comentários e não redige comentários nas caixas alheias, podendo, eventualmente, fazer um link para um post da blogolândia;
Tipo E: Escreve nos jornais.
Actualmente de que tipo é o leitor? Eu sou tipo B. Vejamos alguns exemplos.
O José Pacheco Pereira (Abrupto) é um híbrido, aliás diria mesmo um duplamente híbrido e portanto começo com um exemplo difícil. É D e E e, ao mesmo tempo, também é C. Embora não tenha caixa de comentários publica frequentemente emails que lhe são dirigidos, e que por vezes espelham opiniões contraditórias com o seu pensamento. E, claro, é cronista da imprensa. Rui Curado Silva (Klepsýdra) é C, suponho. Alexandre Andrade (Um blog sobre kleist) é D. Rui Martins (Quintus), que me prodigaliza com os seus pertinentes comentários, é B. A desaparecida Joana (Semiramis) era C e os comentários eram bastante interessantes.
Um case study é o de Constança Cunha e Sá e de Vasco Pulido Valente (Espectro). Quando começaram o seu blog disseram que pretendiam criar um espaço de discussão e, por isso, consentâneamente, foram C. Claro que as caixas de comentários descambaram e, passados dois meses, os bloguistas encerraram o seu espaço de discussão, alegando falta de tempo. E fizeram também uma observação subtil - "estes meses de blogue foram um prazer e, sobretudo, uma educação". A solução de Pacheco Pereira de boa receptividade de feed back, mas por email, é muito mais eficaz.
Durante a campanha presidencial os apoiantes de Mário Soares e de Cavaco Silva animaram dois blogs: o Super Mário e o Pulo-do-Lobo. E se o Dr. Mário Soares acusava o seu adversário Prof. Cavaco Silva de não querer discutir, a verdade é que o blog dos seus apoiantes não tinha caixa de comentários e o Pulo-do-Lobo tinha...
Agora a questão é: por que razão um bloguista é B e não C? Por que é C e não D? Discerno duas hipóteses. Porque realmente tem mais prazer em ser B do que C ou D, ou então porque acha que isso lhe é favorável para as audiências.
Uma outra tipologia dos bloguistas poderia basear-se no tipo de tracking presente no blog. No Apontamento tive activo o Extreme-tracking, que eliminei há umas semanas. Estava farto do Extreme-tracking, que me parece demasiado extremoso, e tenciono instalar um sistema mais soft (sugestões são bem-vindas). Claro que seria interessante analisar a correlação entre estas duas tipologias alternativas.
quinta-feira, junho 22, 2006
A Lei da Paridade - uma dúvida tardia
A Lei da Paridade que visa exigir aos partidos políticos o respeito de uma quota de um terço para a presença das mulheres nas listas para as eleições legislativas, vai ser novamente discutida e votada no Parlamento a 5 de Julho, na sequência do veto do Presidente da República.
Não percebo esta lei. Inclino-me a pensar que ela não deveria existir - e, nesse caso, a sua discussão é uma simples manobra de diversão para entreter e afastar a atenção pública doutros temas - ou então deveria ir mais longe, impondo também uma quota para a presença das mulheres nas responsabilidades ministriais (Ministros e Secretários de Estado). E, claro, o Governo do Eng. José Sócrates já deveria dar o respectivo exemplo, tendo em conta que o PS é o promotor da lei.
A Lei da Paridade parece mais um exercício de desprestígio do Parlamento. Como não tem grande importância o que por lá se passa, porque não fazer o brilharete de criar uma quota feminina? Mas claro que no topo da Administração Pública, no Governo, o poder continua masculino.
Suponhamos que a lei previa também uma quota para o número de mulheres como governantes. Se um Primeiro-Ministro na formação do Governo não a respeitasse, então o número de pastas governamentais (masculinas) seria reduzido, até à proporção de mulheres ser a "correcta". Aqui temos uma medida muito corajosa!
Não percebo esta lei. Inclino-me a pensar que ela não deveria existir - e, nesse caso, a sua discussão é uma simples manobra de diversão para entreter e afastar a atenção pública doutros temas - ou então deveria ir mais longe, impondo também uma quota para a presença das mulheres nas responsabilidades ministriais (Ministros e Secretários de Estado). E, claro, o Governo do Eng. José Sócrates já deveria dar o respectivo exemplo, tendo em conta que o PS é o promotor da lei.
A Lei da Paridade parece mais um exercício de desprestígio do Parlamento. Como não tem grande importância o que por lá se passa, porque não fazer o brilharete de criar uma quota feminina? Mas claro que no topo da Administração Pública, no Governo, o poder continua masculino.
Suponhamos que a lei previa também uma quota para o número de mulheres como governantes. Se um Primeiro-Ministro na formação do Governo não a respeitasse, então o número de pastas governamentais (masculinas) seria reduzido, até à proporção de mulheres ser a "correcta". Aqui temos uma medida muito corajosa!
domingo, junho 18, 2006
As finanças públicas europeias
A BNP-Paribas no seu boletim Conjoncture de Maio de 2006 publica um estudo de Florence Barjou, Finances publiques européennes: la BCE favorable à la discipline de marché, onde analisa a sustentatibilidade das finanças púlicas europeias. Conforme o gráfico junto, Portugal figura com o maior défice registado nos países da UEM em 2005, se bem que numa posição menos desconfortável relativamente ao peso da dívida pública no PIB:
Florence Barjou distingue 3 grupos de países. O primeiro grupo é formado pela Finlândia, Irlanda, Holanda e Espanha e têm uma dívida pública inferior a 60%, ao mesmo tempo que os respectivos saldos orçamentais primários são superiores aos requeridos e portanto a dinâmica da dívida decrescente deverá continuar nesses países. A Áustria, Bélgica, Grécia e Itália formam um segundo grupo: as respectivas dívidas públicas excedem o limite de 60% mas a relação entre a taxa de crescimento (real) do PIB e a taxa de juro real é-lhes favorável e portanto a condição de sustentabilidade é respeitada - o peso da dívida pública no PIB tende a diminuir no futuro. Portugal, França e Alemanha formam o grupo mais desfavorável, em que a dívida pública excede os 60% do PIB e tende a aumentar indefinidamente...
Duas notas finais.
As taxas de juro nominais têm convergido na Eurolândia, o que facilita o exercício orçamental dos países mais inflacionistas do sul da Europa. É uma espécie de incumprimento parcial, facilitado pelos mercados que não têm castigado muito os países menos cumpridores. Mas a inflação excessiva paga-se com a perda de competitividade...
É de esperar uma redução do crescimento potencial europeu, acompanhando o envelhecimento da população europeia - isto impõe um esforço orçamental extra para garantir a solvabilidade das finanças públicas. Numa prospectiva de muito longo prazo (2050) da Comissão Europeia, Portugal surge como o país que vai ter de dedicar a maior fatia do PIB às reformas dos seus cidadãos, passando esse peso de 11,1% (2004) para 20,8%.
Vivam o TGV e o Aeroporto da Ota!
Florence Barjou distingue 3 grupos de países. O primeiro grupo é formado pela Finlândia, Irlanda, Holanda e Espanha e têm uma dívida pública inferior a 60%, ao mesmo tempo que os respectivos saldos orçamentais primários são superiores aos requeridos e portanto a dinâmica da dívida decrescente deverá continuar nesses países. A Áustria, Bélgica, Grécia e Itália formam um segundo grupo: as respectivas dívidas públicas excedem o limite de 60% mas a relação entre a taxa de crescimento (real) do PIB e a taxa de juro real é-lhes favorável e portanto a condição de sustentabilidade é respeitada - o peso da dívida pública no PIB tende a diminuir no futuro. Portugal, França e Alemanha formam o grupo mais desfavorável, em que a dívida pública excede os 60% do PIB e tende a aumentar indefinidamente...
Duas notas finais.
As taxas de juro nominais têm convergido na Eurolândia, o que facilita o exercício orçamental dos países mais inflacionistas do sul da Europa. É uma espécie de incumprimento parcial, facilitado pelos mercados que não têm castigado muito os países menos cumpridores. Mas a inflação excessiva paga-se com a perda de competitividade...
É de esperar uma redução do crescimento potencial europeu, acompanhando o envelhecimento da população europeia - isto impõe um esforço orçamental extra para garantir a solvabilidade das finanças públicas. Numa prospectiva de muito longo prazo (2050) da Comissão Europeia, Portugal surge como o país que vai ter de dedicar a maior fatia do PIB às reformas dos seus cidadãos, passando esse peso de 11,1% (2004) para 20,8%.
Vivam o TGV e o Aeroporto da Ota!
quinta-feira, junho 15, 2006
terça-feira, junho 13, 2006
domingo, junho 11, 2006
O entronsamento das notícias
Estou na rua e um rádio debita (ou credita, sei lá) em som alto. Ouço perto umas vozes femininas, - J'habite à une heure et demie de Paris, - TGV ou corail?, TGV quoi, e elas riam-se, imaginei um comboio acelerado e ocorreu-me a cena da personagem de La bête humaine que presencia um crime perpetrado no comboio que passa disparado diante dela, olha que palavra tão engraçada, presencia, pre-sencia, e ouço o Presidente Cavaco Silva, sério, a insistir em qualquer coisa, "temos de...", ri-me porque pensei que com o Presidente Jorge Sampaio nós também tinhamos de, tinhamos de, tinhamos de, e logo de seguida ouço "em jovem foi actor..." não consigo ouvir o nome, falarão de quem?!, pensei: um dia actor, o resto da vida actor, e o telefone toca e percebo que estava a dormitar.
sábado, junho 10, 2006
A barbarização
Estive a folhear este livro na FNAC. Thérèse Delpech parte de 1905 para observar os recuos da nossa civilização, sobretudo com os flagelos impostos com a Grande Guerra e com a sequela da II Guerra Mundial. E lança umas pistas sombrias para 2025: o agravamento do terrorismo, a proliferação das armas de destruição maciça com a ameaça nuclear iraniana, mas também norte-coreana e possivelmente síria e egípcia e ainda o advento da China como potência mundial, lançando-se talvez numa espécie de guerra fria com a América. No dia de Portugal e de Camões temos matéria de reflexão sobre o papel de Portugal na defesa dos valores europeus.
quinta-feira, junho 08, 2006
segunda-feira, junho 05, 2006
Foto com palavras
Há um traço sinistro nesta foto, da recente visita do Papa Bento XVI a Auschwitz. Estes homens e estas mulheres há mais de sessenta anos foram encarcerados no campo de extermínio nazi e só por milagre escaparam com vida. Foi-lhes tatuado um número no braço, foram vistoriados em paradas, como nos conta Primo Levi. Ontem perfilaram perante as autoridades carrascas, e hoje voltam a fazê-lo, perante a autoridade eclisiástica. Voltaram a ser uma massa anónima, agora com um cartão pendurado ao peito, quiçá numerado.
sábado, junho 03, 2006
Em Lume Brando
A jornalista Dina Adão e o Prof. Renato Costa publicaram um lindo livro sobre os tesouros da gastronomia algarvia. Os autores correm o barlavento e o sotavento algarvios, dando a conhecer a história dos restaurantes visitados. E também revelam receitas das especialidades algarvias, com belas fotografias. A fotografia da sopa de conquilhas do Restaurante Vila Lisa na Mexilhoeira Grande é soberba. Esta receita está disponível na blogolândia, no site do Mestre Kuka, que explica a origem do regionalismo "condelipa" para conquilha. A não perder, aqui.
sexta-feira, junho 02, 2006
A pedra de toque salazarenga
O meu post anterior "O 28 de Maio, a ditadura, a não-inscrição" espelha a pedra de toque salazarenga: a menorização, o ostracismo e o correlativo desprezo do outro.
quinta-feira, junho 01, 2006
AdC vs Ordem dos Médicos
A Autoridade da Concorrência "coimou" a Ordem dos Médicos (OM) em €250.000 por esta ter em vigor uma tabela de preços mínimos e máximos para as prestações clínicas dos médicos, reduzindo a concorrência entre esses profissionais de saúde. A OM argumenta que «os limites mínimos foram aprovados com o objectivo de assegurar a dignidade e a qualidade do acto médico, que os limites máximos são um elemento de defesa dos interesses dos doentes e que o acto médico não é um acto de comércio e que a Ordem apenas pretende evitar a concorrência desleal.» Para a AdC «os honorários máximos não são necessários para a protecção dos interesses dos consumidores. A fixação de um máximo permite que os preços se mantenham acima dos níveis concorrenciais, convertendo-se, na prática, em preços fixos». (Citações do Jornal de Negócios online.)
Em que ficamos?
A dignidade e a qualidade do acto clínico devem ser garantidas pela inscrição dos médicos na OM, e pelo respeito correspondente das regras deontológicas da classe. Portanto acho que não faz sentido a justificação de um preço mínimo. Já quanto ao preço máximo tenho sentimentos mistos.
Num mercado "perfeito" o preço deveria reflectir a qualidade do produto ou do serviço. Impondo um preço máximo, esse preço tende a amalgamar diversas qualidades do serviço - desde o melhor especialista que é assim travado no preço a facturar ao doente, até ao médico que leva esse preço, para não ficar atrás dos colegas, numa espécie de ostentação... Portanto o doente fica a ganhar quando consulta o melhor especialista a preço de saldo (!), mas perde quando consulta o "ostentatório".
Mas será que o preço livre reflecte mesmo a qualidade da consulta médica? Sobre este tema lembro-me sempre de um estudo da Deco, que enviou uma doente a diversos oftalmologistas e depois avaliou a qualidade do atendimento e o acerto das lentes de correcção receitadas. Ora um dos piores desempenhos foi o de uma médica que não acertou nas lentes, embora tenha feito uma das consultas mais demoradas e tenha sido uma das mais dispendiosas. Ao passo que vários dos oftalmologistas que acertaram nas receitas eram dos menos dispendiosos...
Em que ficamos?
A dignidade e a qualidade do acto clínico devem ser garantidas pela inscrição dos médicos na OM, e pelo respeito correspondente das regras deontológicas da classe. Portanto acho que não faz sentido a justificação de um preço mínimo. Já quanto ao preço máximo tenho sentimentos mistos.
Num mercado "perfeito" o preço deveria reflectir a qualidade do produto ou do serviço. Impondo um preço máximo, esse preço tende a amalgamar diversas qualidades do serviço - desde o melhor especialista que é assim travado no preço a facturar ao doente, até ao médico que leva esse preço, para não ficar atrás dos colegas, numa espécie de ostentação... Portanto o doente fica a ganhar quando consulta o melhor especialista a preço de saldo (!), mas perde quando consulta o "ostentatório".
Mas será que o preço livre reflecte mesmo a qualidade da consulta médica? Sobre este tema lembro-me sempre de um estudo da Deco, que enviou uma doente a diversos oftalmologistas e depois avaliou a qualidade do atendimento e o acerto das lentes de correcção receitadas. Ora um dos piores desempenhos foi o de uma médica que não acertou nas lentes, embora tenha feito uma das consultas mais demoradas e tenha sido uma das mais dispendiosas. Ao passo que vários dos oftalmologistas que acertaram nas receitas eram dos menos dispendiosos...