quarta-feira, agosto 30, 2006

Desafios da Segurança Social

Arnaud Parienty discute neste livro a reforma ou o reequilíbrio da segurança social, realçando a necessidade de clareza nos seus objectivos. Por exemplo, qual é a importância a atribuir ao combate da pobreza e das desigualdades de distribuição do rendimento? Qual é a interpretação colectiva actual que podemos adoptar "de chacun selon ses capacités, à chacun selon ses besoins" (princípio que norteou o sistema francês em 1945)? Parienty discute a magreza de resultados possíveis com uma alteração paramétrica do sistema, obtida pelo aumento das cotizações, pela alteração da idade de reforma, ou por redução das pensões. A privatização do sistema é discutida: existe uma corrida geral à privatização nas economias desenvolvidas, que em certa medida nada tem a ver com o financiamento das reformas; mas uma ownership society à americana coloca o desafio enorme do financiamento das actuais reformas, durante o período de transição do sistema de repartição para o de capitalização. Parienty inclina-se para uma revisão do sistema que privilegie uma pensão universal disponível a todos os pensionistas (eventualmente financiada por impostos), majorada por um complemento de rendimento dependente da carreira contributiva do beneficiário. Este modelo pode ser uma versão menos brutal da simples instituição de uma reforma máxima.

Adenda
A proposta de Parienty não deixa de ser uma revisão paramétrica do sistema. Se as pensões actuais não são comportáveis por causa dos "choques" que o sistema enfrenta, então reforce-se a sua natureza assistencialista ("à chacun selon ses besoins") e reduza-se a de seguração, diminuindo a prestação média. Claro que no final há um aumento da progressividade do sistema - os mais "endinheirados" vêem o seu esforço contributivo durante a vida activa menos recompensador na reforma.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Böll, Grass, Timm: a dificuldade da compreensão e da memória

My father's generation, the generation of perpetrators, lived by either talking about it or saying nothing at all. There seemed to be only those two options: either you kept discussing it or you never mentioned it, depending on how oppressive and disturbing you felt your memories to be.

The women and old people talked about the nights of air raids at home. The terror was broken down into details, made comprehensible, domesticated. It was dissipated, usually by anedoctes told in cozy company. Only very seldom, and then suddenly, did the horror come through.

I once saw my father standing by the stove, his hands behind his back, held out to the warmth. He was crying. I had never seen him shed tears before. Boys don't cry. He was not just weeping for his dead son; something unspeakable was dissolving in his tears. As he stood there crying, some terrible memory was surfacing from the depths of despair, not self pity but unutterable grief, and when I asked questions he just kept shaking his head.

What images were preying on his mind? Perhaps something he saw in a camp for Russians POWs was just one example of the horror, one that could be put into words and told, and he did tell it. A Russian prisoner had tried to escape and the guard fired at him, blasting the top off the man's skull, whereupon other prisoners fell on the dead man and ate his streaming brain. For a terrible moment I suspected that my father had fired the shot himself, but then I told myself that was very unlikely for a man of his rank. He didn't even go on duty with a rifle.

Uwe Timm, In My Brother's Shadow, Farrar Straus & Giroux, 2005, pp. 93, 94.

Adendas
Numa entrevista ao El País publicada no Domingo 10 de Setembro, e resumida no dia seguinte no Público, Grass reclama o "direito de ocultar as minhas questões até encontrar formas de as expressar", e adianta um exemplo brutal: "Apenas ao escrever este livro [A Passo de Caranguejo] pude falar da repetida violação da minha mãe por soldados russos. É essa a complexidade do processo literário que se faz assim para trás em passo de caranguejo". Entretanto no dia 11 de Setembro faleceu o historiador Joachim Fest, autor da primeira biografia sobre Hitler e que ia lançar brevemente a sua autobiografia "Eu não". No Libération de 14 de Setembro podia ler-se a seguinte nota: L'historien allemand Joachim Fest, célèbre pour avoir osé publier en 1973 la première biographie en langue allemande d'Adolf Hitler, est mort à l'âge de 79 ans. Joachim Fest, issu d'une famille très réfractaire à l'idéologie nazie, fut coéditeur du quotidien Frankfurter Allgemeine Zeitung durant vingt ans (1973-1993). Il expliquait le succès du nazisme en Allemagne par le charisme du Führer. Et non pas, comme d'autres historiens, par la mauvaise conjoncture économique de l'entre-deux-guerres. Auteur de dizaines de livres, dont une histoire de la résistance allemande, le journaliste devenu historien a été critiqué pour sa façon de donner une vision trop humaine des dignitaires nazis, comme l'architecte Albert Speer, auquel il a consacré une biographie, et Hitler lui-même, dont il a raconté les derniers jours. Ouvrage qui a servi de trame au film la Chute . Ne redoutant aucune polémique, Joachim Fest avait vivement critiqué l'attitude de l'écrivain Günter Grass qui vient de révéler son appartenance aux Waffen-SS. L'historien devait présenter la semaine prochaine son autobiographie, intitulée Ich nicht («moi pas»), déjà considérée par les médias comme les antimémoires de Grass.
Antonio Tabbuchi, por seu lado, faz uma observação mortífera sobre a consciência de Grass: "Ce qui me touche, ce n'est pas la confession tardive. Le problème est autre pour moi et se pose sous forme d'une question. Une question qui est plus importante et plus douloureuse, selon moi. Quand il est entré aux SS, il avait 17 ans, il vivait en Allemagne, il avait sans doute lu Mein Kampf, il y avait déjà eu la Nuit de cristal, il avait assisté aux persécutions quotidiennes que les nazis infligeaient aux juifs, etc. Dès lors, je me pose la question suivante : comment un homme de 17 ans, avec toutes ces informations, n'a pas compris où était le bon côté et où était le mauvais ? C'est ça qui me tourmente." Entrevista a Emilie Grangeray, «Antonio Tabucchi : "Etre engagé avec soi-même"», Le Monde de 10 de Novembro de 2006, a propósito do lançamento do seu livro "Au pas de l'oie - Chroniques de nos temps obscurs" (L'Oca al passo. Notizie dal buio che stiamo attraversando), traduzido do italiano por Judith Rosa com a colaboração do autor, Ed. du Seuil, 240 p., 16,90 €.

terça-feira, agosto 22, 2006

Anonimato das notícias

Les informations à la radio : On déplore de nombreux morts du coté américain mais du coté Viêt-Cong également, 115 combattants ont été abattus.
La femme : C’est terrible, l’anonymat.
L’homme : Qu’est ce que tu dis ?
La femme : On n’apprend rien quand on nous dit que 115 guérilleros sont morts. On ne sait rien d’eux. Avaient-ils des femmes, des enfants ? Préféraient-ils le théâtre ou le cinéma ? On n’apprend rien du tout. La mort de 115 hommes au combat, c’est tout.

em Pierrot le fou de Jean-Luc Godard, citado por Haruki Murakami em Après le tremblement de terre.

quinta-feira, agosto 17, 2006

O método Suzuki

Pode uma criança com três anos, ainda antes de saber as letras do alfabeto, quanto mais partituras, aprender a tocar um instrumento? Shiniki Suzuki (1898-1998), violinista japonês não tinha dúvidas de que não só era possível, como a educação musical desde os primeiros anos da infância ajudava a desenvolver outras capacidades. O método de ensino que acabou por ganhar o seu nome, não é muito diferente daquele que as crianças usam naturalmente para aprender a falar, ou seja, aprende-se pela imitação e repetição e começa-se pelas músicas mais elementares, como é o caso das canções tradicionais infantis, explica Filipa Poêjo [co-fundadora em 1998 com Rui Fernandes da academia de música Os Violinhos, com aulas de violino, piano, clarinete, contrabaixo, viola e violoncelo a partir do próximo ano-lectivo]. (...)
"Juntam-se todos os alunos e toca-se todo o reportório. No início, os mais velhos ajudam os mais pequeninos. A endireitar um pé, o violino, a fazer uma vénia", explica Filipa. "Depois ficam só os mais avançado", e as aulas de grupo acabam não só por garantir a cumplicidade entre os alunos, como a motivação para a progressão. "Se perguntar a um dos pequeninos, todos eles têm uma música para a frente que gostariam de tocar como um dos mais velhos já o faz".


Isabel Leiria, A maior escola de violinos do país, Revista Pública, 13 de Agosto de 2006.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Uma pergunta

Fui a Castelo Branco e esqueci-me do queijo. Fui aos Olivais e pensei - afinal isto ainda é Lisboa. As duas mercearias perto de casa estão fechadas para férias; enceram sempre no mesma altura. Serviço público. Uma senhora cuspia o fumo para cima dos outros clientes no café. "As bebidas expostas são para consumo do estabelecimento". Onde é que se toma um bom banho fluvial?

quinta-feira, agosto 10, 2006

A guerra (II)

Desde a sua fundação [em 1948], Israel vive em estado de guerra permanente, sucedendo-se os conflitos armados. Em nenhum deles Israel foi considerado agressor. O conflito com mais repercussões ocorreu em 1967, cujo objectivo explícito por parte do Presidente Egípcio Nasser era a destruição de Israel. Nesta guerra, Israel ganhou territórios aos Jordanos e aos egípcios, os chamados territórios ocupados. Da derrota árabe surge a OLP, um conjunto de grupos nacionalistas palestinianos, que tem o patrocínio da União Soviética e como líder Arafat. Em 1970, os militantes da OLP e outros palestinianos são expulsos violentamente da Jordânia e refugiam-se no Sul do Líbano, um país que perderá a sua soberania para se tornar num satélite da Síria, um estado totalitário. Só em 1988 a OLP reconhece, no papel, a existência do Estado de Israel e até hoje só um Estado árabe, o Egipto, reconheceu essa existência.
(...)

Do lado de Israel os que sonham e combatem por um "Grande Israel" são os aliados de facto dos grupos terroristas do lado palestiniano. (...) O povo palestiniano, particularmente através da primeira Intifada, mostrou não só ser digno como ser justo ver a sua soberania reconhecida.
(...)
O fim da ocupação por parte de Israel não significa de nenhum modo o fim dos ataques terroristas a Israel. O fim da ocupação não traz consigo a paz, embora seja um objectivo necessário para a paz.
(...)
Israel representa os ideais democráticos ocidentais numa zona de países que não só os desprezam, mas em que muitos juraram combatê-los até à sua destruição. Uma guerra de motivação religiosa é, por essência, irracional e só termina pela destruição do inimigo, já que não existe entre os lados em confronto um diálogo possível.
(...)
As mortes civis dos dois lados da fronteira, que toda a gente civilizada lamenta, devem ser integralmente contadas a favor da causa do Partido de Deus, que delas se regozija. Entretanto, Estados europeus vão a correr falar com os fornecedores de armas, a Síria e o Irão, ambos Estados que aterrorizam as suas populações, e que têm assim, mais uma vez, direito a reconhecimento e a prova que devem fornecer mais armas a quem as pedir.

Pedro Paixão, Uma guerra sem fim, Jornal Público, 10 de Agosto de 2006.

terça-feira, agosto 08, 2006

Impressão digital















Daniel Malhão

segunda-feira, agosto 07, 2006

Génios matemáticos

A ciência do número, a matemática, que é a mais antiga e a mais desenvolvida de todas as ciências, conta na sua história muitos nomes, que são pedras miliares no percurso do pensamento humano. Os nomes de Arquimedes, de Galileu, de Descartes, de Leibnitz e de Newton, de Euler, de Laplace, de Gauss e de Cauchy, de Abel, de Riemann e de Weierstrass, evocam cada um a imagem de uma época. Essas pessoas, para além da potência incisiva do pensamento, distinguiram-se por outros motivos e particularidades pessoais que tocam vivamente a imaginação. Isto é notavelmente verdade em Niels Henrik Abel, o estudante norueguês que nunca teve outro título, senão o simultaneamente modesto e orgulhoso de matemático, e que, mais ou menos desconhecido no seu país, morreu na miséria sem completar vinte e sete anos [em 1829], sendo tomado como um igual pelo seu grande contemporâneo, o "mestre dos números", princeps mathemicorum, Carl Friedrich Gauss, e foi reconhecido pela ciência da posteridade com um dos maiores pensadores que alguma vez viveram.

G. Mittag-Leffler, Niels Henrik Abel, Editions de la Revue du Mois, Paris, 1907.

domingo, agosto 06, 2006

Picnic

quarta-feira, agosto 02, 2006

Amiguinhos algarvios

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