sexta-feira, outubro 27, 2006

"Estás de parabéns, ...

... ganhei um prémio", disse José Cardoso Pires a António Lobo Antunes. "É profundo, não é?", questionou Lobo Antunes na Grande Reportagem. Um bom momento de televisão, apesar de Judite de Sousa.

domingo, outubro 22, 2006

Comentários sobre os comentadores

As crónicas dominicais de António Barreto e Mário Mesquita do jornal Público de hoje são um bocadinho entorpecentes.

António Barreto encontra na autonomia acrescida das escolas relativamente ao Ministério, com reforço da participação dos pais e das autarquias, a panaceia para melhorar o ensino. Será mesmo? A prazo seria possível manter os exames nacionais? Ou cada escola seria uma universidadezinha, impossível de monitorizar?

Para Mário Mesquita o modelo social-liberal da UE, com a primacia do rigor financeiro, dificulta o desenvolvimento. Ora a União Económica e Monetária, com uma moeda única partilhada actualmente por 12 países, significa que cada participante perde a autonomia para definir a sua inflação. A vantagem da moeda única reside precisamente na atenção acrescida que as autoridades nacionais devem dar aos factores essenciais que conduzem ao crescimento e desenvolvimento sustentáveis. Se colectivamente não convergirmos para os níveis de riqueza dos nossos parceiros, só nos resta passarmos a vida a implementar "reformas" à Sócrates.

Adenda
Claire Guélaud recensia hoje (25 de Outubro) no jornal Le Monde uma obra do economista Patrick Artus e da jornalista Marie-Paule Virard, "Comment nous avons ruiné nos enfants" (La Découverte, 164 p., 12,50 €), em que os autores discutem o "pesadelo de 2030": "Leur thèse, solidement documentée, est simple : les politiques économiques et sociales conduites depuis le milieu des années 1970 n'ont pas préparé l'avenir, et à chaque nouvelle élection, il a fallu perdre du temps à en réparer les effets désastreux. Un exemple ? La relance budgétaire de septembre 1975 conduite par un certain Jacques Chirac débouche sur une explosion des dépenses publiques, bientôt suivie par une hausse de la pression fiscale et sociale qui aggravera le chômage. A peine installée au pouvoir, la gauche du premier septennat de François Mitterrand s'engage dans une autre politique de relance par les bas salaires et de hausse sans précédent des dépenses publiques. Elle se soldera par 12 % de chômeurs de plus en un an et s'achèvera par le fameux tournant de la rigueur de mars 1983. "Trente ans de stimulation têtue de la demande, alors que la population active allait diminuer, au lieu de privilégier l'investissement et l'appareil productif (...) ; cela s'appelle tout simplement une folie collective", écrivent-ils en relevant, à juste titre, que les grandes questions de long terme, "négligées depuis si longtemps", ont fini par nous rattraper". E os autores pensam sobretudo no envelhecimento da população, com os seus impactos na produtividade colectiva e na saúde pública. Conclusão: "Qu'on se rassure. Au terme de cette analyse fouillée des contradictions, des faiblesses et des impasses de l'économie et de la société françaises, les auteurs appellent à un sursaut. Mettre l'argent public au service de la croissance, soutenir les entreprises innovantes, réformer l'Etat, investir dans la recherche et l'éducation : autant de pistes indispensables que nombre de nos voisins, et tout récemment l'Espagne de José-Luis Zapatero, ont faites leurs. Faute de les emprunter, nos enfants et nos petits-enfants auront quelques raisons de nous reprocher de les avoir ruinés." (sublinhados meus).

sábado, outubro 14, 2006

Estratégia e transparência

Garry Kasparov esteve em Lisboa e deu entrevistas aos jornais, no seu papel de guru do pensamento estratégico. Explicou a necessidade de conhecer as nossas forças e fraquezas, assim como as do adversário, para conduzir o confronto para um terreno que nos é favorável. "Quando nós ganhamos o nosso opositor começa a ficar ansioso", cito de cor duma entrevista a Pedro Guerreiro e Elisabete Sá do Jornal de Negócios de quinta-feira. O mundo da estratégia de Kasparov é um mundo cão de zeros e uns, ou, para ser mais claro, de jogos de soma nula - se eu ganho o outro necessariamente perde. Não podemos ganhar os dois simultaneamente, embora de forma desigual, como acontece muitas vezes. E é um mundo transparente: o tabuleiro de xadrez mostra bem o confronto em curso. Pelo contrário, no jogo de estratégia africano ouri (Awalé ou woaley) a estratégia ofensiva Krou, em que um jogador acumula sementes numa casa para procurar infligir uma razia no seu opositor, o número de sementes acumuladas fica confuso. Apenas o "acumulador" pode mexer no seu krou, para contar as peças, ao passo que o opositor tem de contar por alto, com o olhar.

O verdadeiro choque tecnológico

É preciso diminuir os hábitos de desperdício. Contudo, a qualidade de vida poderá continuar a progredir. À medida que caminhemos para uma sociedade da informação, cujos valores determinantes serão as ideias, a inovação, o engenho, utilisaremos menos madeira, plástico, aço, borracha. Precisamos de melhores arquitectos, de melhores designs, de melhores sistemas, de fontes de energias renováveis, e sobretudo devemos reconceber os sistemas que desperdiçam a energia.

Al Gore em entrevista a Hervé Kempf ("Al Gore: «La crise climatique menace la civilisation»"), Le Monde, 13 de Outubro de 2006.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Auto-censura

A primeira edição francesa do meu livro foi traduzida da versão americana que eu nunca considerei como completa. (...) Eis portanto a edição não expurgada. Pode dizer-se que a edição americana tinha sofrido alterações arbitrárias? É certo que não. Tratou-se antes de uma restrição que eu me impus e que gostaria de referir: uma censura por antecipação. Esta restrição existe no espírito de muitos escritores americanos que estão conscientes das preferências do público para que escrevem e que também conhecem bem a ideia que têm do nosso público os que o servem.

Pamela Moore no Prefácio à edição francesa revista de Chocolates for breakfast, Julliard, 1957.

terça-feira, outubro 10, 2006

Edmund S. Phelps

Bom, nos anos 1960, e mesmo para trás até aos anos 1930, era sentido pelos economistas que uma polítca monetária acomodatícia é uma forma credível para aumentar o emprego. E inicialmente a doutrina era que não existiriam custos em termos da inflação, e depois o argumento revisto era o da curva de Phillips, em que um ligeiro aumento do emprego apenas teria um pequeno custo, em termos de uma taxa de inflação ligeiramente mais alta. E agora os bancos centrais não pensam dessa maneira, um bom número número de bancos centrais nunca pensaram dessa maneira, mas os bancos centrais já não estão sob a pressão de baixarem continuadamente as taxas de juro para melhorar o emprego. É agora compreendido maciçamente nas economias à volta do mundo que o mercado envia... que se o emprego é estimulado demasiadamente [através da moeda], a taxa de inflação dispara, o que seria inaceitável. Foi gradualmente aprendido que a aceitação de uma taxa de inflação algo mais elevada, não traria realmente um emprego acrescido. Que seria necessário aumentar sucessivamente a taxa de inflação para níveis cada vez mais elevados, para tentar manter o emprego no nível que se pensava (...) possível.


Extracto da entrevista telefónica a Edmund S. Phelps, laureado com o Prémio Nobel da Economia em 2006. A entrevista pode ser ouvida e lida no site da fundação Nobel. O Ex-Ministro Jorge Braga de Macedo, durante o período de desinflação da economia portuguesa dos anos 1990, deu uma vez uma imagem expressiva da dificuldade de baixar a inflação (uma vez aparecida!): a de um estádio de futebol em que os espectadores se levantam num ápice para ver um lance, mas que depois se sentam lentamente, numa espécie de exercício recursivo e surdo de coordenação. Mas claro que é polémico o nível "natural" da taxa de inflação.

quinta-feira, outubro 05, 2006

segunda-feira, outubro 02, 2006

A Segurança Social à la Compromisso Portugal

Uma pessoa está de férias uns dias e é surpreendida pelas ideias desconcertantes do Compromisso Portugal. É proposta para a Segurança Social uma gigantesca engenharia financeira (acho que esta expressão já está queimada), que oferece o incumprimento das obrigações com as pensões de reforma a quase duas gerações inteirinhas!

Primeiro a nata que se come com uma colherzinha de café
Durante 45 anos o Estado vai emitindo dívida para fazer face às responsabilidades com os actuais pensionistas e com os direitos adquiridos dos trabalhadores activos, apenas se efectuando o pagamentos dos respectivos juros. Isso aponta para a emissão de 160 mil milhões de euros de dívida, o que representa 110% do PIB actual. E as contribuições dos trabalhadores e empregadores passariam a reverter para um fundo de capitalização a ser gerido por um instituto público, que pagaria a pensão de reforma dos actuais activos.

Depois a massa dura
A dívida pública contraída e os remanescentes juros seriam amortizados de 2052 a 2091.

Resumo
Nós apenas pagaríamos parte das nossas reformas e juros relativos às dos nossos pais; os nossos filhos pagariam as suas reformas, alguns juros das nossas reformas e juros das reformas dos nossos pais; os nossos netos e bisnetos teriam um fardo pesado: o pagamento das suas reformas, de parte das nossas reformas que resultam da nossa vida activa até hoje, e as dos actuais pensionistas de hoje até ao fim dos seus dias. A isto se chama justiça intergeracional!

Conclusão
Esta bela elucubração nada tem a ver com as nossas obrigações decorrentes da União Económica e Monetária: a dívida pública portuguesa já excede o limiar de 60% do PIB, mesmo sem a "ajuda" do CP.

Mas há cenários que podem justificar esta gigantesca operação. Por exemplo, se os países participantes da UEM admitirem que a moeda única não dura 20 ou 30 anos, talvez aceitem políticas financeiras que inibem a sua existência e portanto permitam esta deriva; e uma inflação terceiro-mundista na década de 50 eliminaria uma parte do problema dos nossos netos.

Não deixa de ser animador sentir o optimismo do CP: eles acham que os nossos netos e bisnetos vão ter muito melhor nível de vida e portanto conseguem fazer o que nos confessamos incapazes: o pagamento das reformas dos nossos pais e parte das nossas próprias.

O elogio do essencial

Vi uns trechos do programa Quadratura do Círculo Especial - Conferências do Lake (que nome tão foleiro) em que o Dr. Jorge Sampaio, a propósito do número de deputados da Assembleia da República, pediu para o legislador não se esquecer de escolher um número ímpar - ele bem se lembra das agruras do 115 contra 115 do Eng. Guterres.
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