quinta-feira, novembro 30, 2006

Legados governamentais

Cenário pessimista
O Eng. António Guterres legou-nos umas engenhosas SCUT. O Eng. José Sócrates lega-nos um aeroporto e um TGV inúteis - tão dispendiosos que para cobrir os custos operacionais e os encargos com o investimento exigem preços estratoesféricos. Para chegar à OTA, partindo do centro de Lisboa, é um calvário chato e caro. Nos antípodas de Barcelona. Lisboa ganha má fama. O TGV anda às moscas. A CP e a Refer são ainda mais deficitárias. Portugal é apenas uma urbe esquisita e fica conhecido como Ilha da Páscoa.

Cenário optimista
O Eng. António Guterres legou-nos umas engenhosas SCUT. O Eng. José Sócrates lega-nos umas visionárias infraestruturas - o Aeroporto da Ota e uma rede de TGV. O TGV é um sucesso, sempre cheio. Madrilenos desaguam continuadamente em Lisboa e no Porto, para negócios e turismo. Todo o sul da Europa guerreia por um lugarzinho no TGV para Lisboa. O trânsito automóvel entre Lisboa e o Porto cai 50%. A OTA é um "Hub" incontornável - Barajas já era.

Seja patriota, seja optimista!

Adenda 1
O Jornal de Negócios traz hoje, 9 de Fevereiro, alguns dados sombrios.
Num artigo de opinião ("Que pólos de competitividade para Portugal?") , Francisco Jaime Quesado, Gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento, dá-nos conta de um estudo da ONU ("Prospectivas de Urbanização do Mundo, Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas), que prevê o crescimento da população urbana portuguesa, com o aumento da Região da Grande Lisboa dos 3,8 milhões de pessoas em 2000 para 4,5 milhões em 2015 (45,3% do total da população portuguesa), tornando-se a terceira maior capital metropolitana da União Europeia, a seguir a Londres e a Paris, a par do crescimento da Área Metropolitana do Porto, para 23,9% da população portuguesa. As restantes áreas urbanas contarão com uns magros 8,3% da população total, e o mundo rural terão apenas os remanescentes 22,5%. A metropolização da capital, a continuar, traduzirá o falhanço do desenvolvimento das cidades médias e do combate à desertificação do interior, com o correspondente afastamento da Europa das Cidades e das Regiões.

Adenda 2
Na sua primeira crónica semanal no jornal Público, do dia 16 de Fevereiro de 2007, o Prof. Luís Campos e Cunha retoma um aspecto da sua entrevista televisiva, o da necessidade de implementar a breve trecho reformas na Administração Pública (economizadoras...). E termina com uma tipologia dos legados possíveis do Governo em que participou: "Em conclusão, dentro de três ou quatro meses, saberemos como classificar o actual Governo. Se um governo de reformas estruturais, na Segurança Social (regime geral e função pública), nos impostos, nos custos salariais do Estado, na reorganização do ensino e da saúde, no apoio a idosos pobres. Se um governo do congelamento das propinas, do desrespeito pela independência das autoridades reguladoras, da gestão política de empresas públicas, da concentração de poderes, da TLEBS, dos "grandes" projectos injustificados".

quinta-feira, novembro 23, 2006

Génio humano

Etienne Klein no seu belo livro revela a efervescência intelectual no mundo da Física, de 1925 a 1935, com a procura das leis que regem os átomos e a fundação da Física Quântica. O autor mostra-nos os percursos e as personalidades dos sete cientistas retratados - e os seus encontros e desencontros pessoais e intelectuais. O génio humano em todo o seu esplendor e mistério.

segunda-feira, novembro 13, 2006

A eficiência energética da TAP

A frota actual da TAP é constituida apenas por aviões do consórcio aeronáutico europeu (modelos da Airbus: A310, A320, A340, A319 e A321). O último Boeing detido pela TAP foi vendido em 2001, e em 1988 a companhia comprou o primeiro Airbus. Como se pode apreciar no gráfico, a renovação da frota tem sido acompanhada por uma melhoria nos consumos das aeronaves: 4 pontos a vermelho relativos a 4 modelos actualmente detidos encontram-se abaixo da linha de tendência que se tem verificado na TAP - ou seja são mais eficientes do que os seus antecessores. O ponto que está junto à linha refere-se ao modelo A310 (com uma lotação de 201 passageiros, consome 6500 litros de Fuel por hora, o que permite percorrer 900 Km, com um consumo de 7,22 litros por Km). Em 2000 entrou ao serviço da companhia o A321, com muito melhor rendimento (194 passageiros, consumo de 3750 litros de Fuel por hora, para percorrer 900 Km).

O verdadeiro outlier deste gráfico corresponde ao Boeing 8747 (Jumbo jet permitindo 370 passageiros, com um consumo de 15000 litros de Fuel por hora para percorrer 950 Km, o que dá os quase 16 litros por Km percorrido). Entrou ao serviço em 1972 e foi abatido ao activo em 1983. Tinha quase o consumo do Concorde.

A concentração da frota na Airbus há-de ter vantagens, mas suponho que deve diminuir a margem de negociação com a Airbus, quando se realizam encomendas. Seria mais credível a relutância da Administração da TAP, quando negoceia preços com os dois construtores, se a frota contasse com alguns aparelhos Boeing.

domingo, novembro 05, 2006

Euromilhões...

Cento e trinta e um milhões de Euros ficaram por distribuir por um primeiro prémio, acumulando para a próxima semana. A matemática do Euromilhões é simples: existem 76.275.360 possibilidades, todas igualmente prováveis. Quanto mais apostarmos, maior é a probabilidade de acertar. Por cada Euro apostado, apenas 50 cêntimos revertem para prémios. É portanto um mau investimento, muito pior do que as apostas nos Casinos. Em termos práticos é basicamente equivalente jogar €2 ou €5000 - de qualquer forma é preciso uma grandesíssima sorte para acertar. Havendo gosto em jogar, suponho que o ideal é apostar uma quantia que se possa perder sem qualquer mossa - seja isso o valor de um maço de cigarros ou de dois ou três (ou de duzentos ou trezentos...).

Existem algumas curiosidades. Por exemplo, existem apenas 1656 apostas com números consecutivos (como 23 24 25 26 27 + 4 9). Com estrelas consecutivas são ainda mais escassas: 368 (como 23 24 25 26 27 + 4 5).

É muito pouco provável que saia uma aposta com números consecutivos (face a uma qualquer outra com números "desordenados"). Portanto deve ser má política apostar numa dessas chaves: no caso de sair, o apostador deverá estar muito acompanhado de outros jogadores que seguiram a mesma estratégia. Mais vale jogar numa chave "anónima", capitalizando a solidão ganhadora.

quarta-feira, novembro 01, 2006

O tipping point do Governo Sócrates?

Na semana passada foram conhecidas as intenções governamentais de suprimir as pausas na actividade dos professores no Natal, Carnaval e Páscoa, e de aumentar a actividade docente para 8 horas diárias.

É natural que um governo de esquerda dê muita importancia à educação. Um bom sistema de ensino é um bom elevador social, que procura minorar as dificuldades dos jovens oriundos das famílias mais desfavorecidas. A igualdade de oportunidades significa que deve ser possível a cada cidadão enveredar pelo caminho pessoal e profissional que lhe é mais gratificante.

A tarefa dos educadores - Ministério, Docentes, Pessoal Auxiliar - é portanto espinhosa. Sobretudo nos tempos que correm em que a autoridade se esmigalha. Se calhar 90% dos miúdos sabem mais de computadores do que os seus pais, assim como 90% dos pais percebe muito pouco da gramática ou da matemática com que os meninos são confrontados na Escola. O Estado e as Empresas já não são o que eram, o que nos confunde a todos. Ainda por cima a quebra no crescimento da economia portuguesa e a regressão demográfica colocam novos problemas, e põem a nu más opções tomadas no passado recente.

O esforço reformista do governo é portanto bem-vindo. As aulas de substituição, por exemplo, poderiam, em princípio, melhorar o ambiente vivido na Escola. Por exemplo um professor de Matemática convocado para dar uma aula de substituição a alunos do 11º ano, cujo professor de Inglês faltou, poderia chegar, apresentar-se, e confrontar os alunos com um ou dois problemas que versassem matérias do 9º ou 10º anos. Provavelmente até os bons alunos hesitariam na sua resolução, por força do esquecimento e alheamento daqueles temas. Esse momento serviria para reforçar a convivialidade dos alunos e professores com as matérias em estudo. E, com sorte, reduzir algum absentismo dos professores (ver este post).

As medidas do Ministério da Educação, enunciadas no início do post, parecem-me incompreensíveis. Não percebo como é que elas podem ser interpretadas como instrumentos para a melhoria do ensino em Portugal. Parece que o governo quer impor aos professores, à força, o papel do Cavalo na "Revolução dos Porcos" de George Orwell. Ao menos o Cavalo acreditava no seu esforço. A confiança no Ministério da Educação só pode desmoronar-se.

O Eng. José Sócrates deve detestar o ensino em Portugal. Aliás para os seus filhos optou por colégios estrangeiros (ver aqui). Mas será boa política piorar o sistema?
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