sábado, fevereiro 17, 2007

E o Público, ...

... o jornal Público, mudou! Cores, e mais cores, parece quase o Metro! Parabéns!

Avaliar o novo Público é um exercício tão difícil como o seguinte que me diverte nas manhãs de sábado: especular se a primeira página do semanário Sol não daria uma excelente primeira página do Semanário Expresso, e vice-versa.

Há um detalhe, no entanto, que me enerva sobremaneira: aquelas irrelevâncias que invadiram o espaço mais nobre das páginas do jornal, que são o seu topo. Umas vezes são uma espécie de índice, com a chamada de atenção para um artigo que se encontra algures no jornal ("José Miguel Júdice questiona o futuro dos partidos de direita. Opinião, página 45", lia-se ontem no topo da página13), ou uma referência a um artigo que vai sair no jornal no dia seguinte ("Viagem ao terceiro pico mais alto do mundo - Amanhã, no Fugas", lia-se ontem ao alto da página 9), ou uma deixa disparatada qualquer ("Galeria com os monumentos marcantes de Fátima Felgueiras em www.publico.pt", no topo da página 21 de ontem).

O problema daquelas irrelevâncias é o de fazerem ruído comunicacional. A pessoa abre uma página, está pronta para mergulhar numa notícia, e aparecem aquelas coisas pavorosas que prendem a atenção, é puro ruído desconfortável. Por favor, acabem com esse massacre! Ao menos passem aquelas coisas para o rodapé. E não aumentem novamente o preço do jornal - não se esqueçam que actualmente a inflação ronda apenas os 2,5% ao ano.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

O Euro: um colete de forças?


(Post publicado originalmente em 8 de Fevereiro de 2006.)
Partindo de um nível semelhante em 1999-2000, as exportações alemãs dispararam nos últimos anos, deixando para trás as francesas e as italianas. Será o Euro um colete de forças imposto aos países menos "performativos"?

Adenda
No Le Monde de 9 de Fevereiro de 2007 Alain Faujas (Un commerce extérieur malade) discute o andamento recente do défice comercial francês: 8,3, 26,4 e quase 30 mil milhões de Euros, respectivamente nos anos de 2004, 2005 e 2006; sendo que o défice francês se agravou com os países europeus, e não com os países emergentes. Em contrapartida a Alemanha registou um excedente recorde de 161,9 mil milhões de Euros em 2006 (o que ultrapassa o excedente comercial chinês de 136,95 mil milhões de Euros). Patrick Artus, ouvido pelo jornalista, diz que "a nossa gama de produtos é demasiado curta, em particular nos produtos de ponta", acrescentando, "a Alemanha tem uma boa especialização em dezasseis produtos, a Suécia em dez, a França em três e a Itália em dois. 70% das nossas exportações de alta tecnologia pertecem ao sector da aeronáutica. Por outras palavras, dependemos demasiado das vendas de Airbus, ao passo que a Alemanha também está presente no vidro, na química e na metalurgia de alto nível". E observa que o número de PME de dimensão crítica (acima de 250 assalariados) é um terço do verificado na Alemanha, o que dificulta a inovação e a correspondente exportação.

Há outra interpretação, mais audaciosa: a de que a evolução das contas externas apenas espelha a terciarização da economia francesa, com a correspondente carência de produtos industriais e de consumo, de alguma forma numa evolução à americana.

Parece-me que há um problema com aquela interpretação: a de que ela não tem a validação do mercado. Se a França mantivesse o Franco, e este se mantivesse forte apesar das contas externas, isso significaria que o mercado continuava a confiar na economia francesa. Mas, com o Euro, fica uma drôle d'ambiance.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Dissonâncias, botas, perdigotas e etc.

O Ministro Pinho na China disse que os salários portugueses estavam abaixo da média europeia. Caiu o Carmo e a Trindade! Francamente, não percebo. Em primeiro lugar é uma pura verdade estatística. Em segundo lugar está de acordo com a preocupação governamental de evitar crescimentos salariais diversos dos da produtividade. Depois não nega o "choque tecnológico" - já toda a gente sabe que o dito "choque" é uma quimera, um desígnio que nos deve alegrar todas as manhãs, é a esperança de um amanhã melhor, em que seremos todos mais produtivos, melhor pagos, e quiçá mais inteligentes e felizes (não queriam, suponho, que o Eng. Sócrates ganhasse as eleições logo com um exercício de coragem, que seria prometer-nos um aumento de impostos, em vez de nos servir uma fantasia tecnológica). A única fraqueza da observação do Ministro reside no facto de, subrepticiamente, lembrar aos seus interlocutores que existem outros países na UE com salários ainda mais abaixo da média europeia, e ainda por cima com uma população mais instruída. Portanto acho que o Prof. Campos e Cunha não tinha razão na entrevista de domingo ao falar numa dissonância cognitiva do ministro, vulgo "a bota não bate com a perdigota".

Na entrevista do Prof. Campos e Cunha ele reconhece que "do ponto de vista económico, o conceito [de centro de decisão nacional] é-me desconhecido" (e estou a citar do blog Elevador da Bica). E então? Poderemos desprezar a nacionalidade do centro de decisão?

Vejamos um exemplo.

Suponhamos que o Governo decidia privatizar a Universidade Nova de Lisboa. Vendia as diversas faculdades, e admitamos que a Universidade Católica adquiria a maioria do capital da Faculdade de Economia da UNL (com um financiamento bancário... espanhol). E que, um ano depois, resolvia realizar uma boa mais-valia alienando a sua posição a uma universidade espanhola. Os doutos senhores professores (lisboetas?), que construiram o sucesso da faculdade nos últimos 30 anos, deixariam de decidir o seu destino. Limitar-se-iam a dar aulas e a fazer investigação. O projecto da faculdade passaria a ser definido algures. Isso seria irrelevante? Será irrelevante, economica e socialmente, reduzirmo-nos ao papel de formigas obreiras?
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