Um cão tem de ser razoável
- Porque é que estás a puxar-me todo?!
Deram mais uns passos. Mas retrocederam, o senhor abriu a porta e desapareceram no prédio.
"A teoria da agência é fundamental para o enquadramento da corporate governance. Procura-se por diversos meios alinhar os interesses dos gestores com os dos accionistas. Isso pode ser feito através das estruturas e órgãos societários, bem como através de sistemas de gestão e avaliação da performance, incluindo sistemas de remuneração e incentivos."
Claro que não há nenhuma relação entre os episódios recentes vividos na Universidade Independente e a D. Branca. Se bem que, pelo menos na aparência, se registem, nos dois casos, alguns prejudicados: os aforradores da D. Branca dos anos 80 e os estudantes da UI nos dias que correm. Ainda no domínio estrito da fantasia há outra aproximação. O Banco de Portugal, aparentemente, assobiou para o ar durantes meses a fio, fingindo que a D. Branca não era uma Instituição de Crédito, sujeita, por isso, aos condicionalismos legais previstos. E o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, ainda aparentemente, pretende que a UI é uma empresa de sabonetes.

O Ministro Pinho na China disse que os salários portugueses estavam abaixo da média europeia. Caiu o Carmo e a Trindade! Francamente, não percebo. Em primeiro lugar é uma pura verdade estatística. Em segundo lugar está de acordo com a preocupação governamental de evitar crescimentos salariais diversos dos da produtividade. Depois não nega o "choque tecnológico" - já toda a gente sabe que o dito "choque" é uma quimera, um desígnio que nos deve alegrar todas as manhãs, é a esperança de um amanhã melhor, em que seremos todos mais produtivos, melhor pagos, e quiçá mais inteligentes e felizes (não queriam, suponho, que o Eng. Sócrates ganhasse as eleições logo com um exercício de coragem, que seria prometer-nos um aumento de impostos, em vez de nos servir uma fantasia tecnológica). A única fraqueza da observação do Ministro reside no facto de, subrepticiamente, lembrar aos seus interlocutores que existem outros países na UE com salários ainda mais abaixo da média europeia, e ainda por cima com uma população mais instruída. Portanto acho que o Prof. Campos e Cunha não tinha razão na entrevista de domingo ao falar numa dissonância cognitiva do ministro, vulgo "a bota não bate com a perdigota".
Os gráficos reproduzidos dão conta da explosão de encomendas dos dois construtores, nos últimos anos. E em particular registam a quebra de encomendas da Airbus (o A380 já tem um atraso de dois anos). Há um aspecto curioso nestes gráficos: enquanto as curvas de encomendas e entregas da Boeing se entrelaçam ao longo dos anos, a curva de encomendas da Airbus está quase sempre acima da das entregas.
O Dr. Paulo Macedo é um verdadeiro achado do Governo. Em primeiro lugar é um profissional competente, com uma lista de realizações à frente da Direcção-Geral de Contribuições e Impostos, como citou no domingo passado António Barreto no Público (talvez ingenuamente suponho que a competência interessa). Em segundo lugar, subrepticiamente, ajuda o Governo a catalogar de incompetente a Administração Pública - a contratação de um director-geral exemplar não pôde ser feita no seio do Funcionalismo Público. Depois, evidencia que os responsáveis políticos são mal pagos (um Primeiro-Ministro é mais importante para o país do que um director-geral, embora o Dr. Macedo ganhe o quíntuplo do Eng. Sócrates). Fica no ar uma dúvida: quantos "paulos macedos" não estão no Governo da Nação, porque não estão dispostos a salários de "miséria", para além do escrutínio da imprensa e da opinião pública? Por fim, o Governo vai brilhar: com grande coragem e determinação renova o contrato do seu director-geral, apesar das contradições remuneratórias, ou, com igual determinação e coragem, dispensa este quadro do BCP. A entropia é máxima, e o sucesso do Primeiro-Ministro é garantido, como ele gosta.
Etienne Klein no seu belo livro revela a efervescência intelectual no mundo da Física, de 1925 a 1935, com a procura das leis que regem os átomos e a fundação da Física Quântica. O autor mostra-nos os percursos e as personalidades dos sete cientistas retratados - e os seus encontros e desencontros pessoais e intelectuais. O génio humano em todo o seu esplendor e mistério.
A frota actual da TAP é constituida apenas por aviões do consórcio aeronáutico europeu (modelos da Airbus: A310, A320, A340, A319 e A321). O último Boeing detido pela TAP foi vendido em 2001, e em 1988 a companhia comprou o primeiro Airbus. Como se pode apreciar no gráfico, a renovação da frota tem sido acompanhada por uma melhoria nos consumos das aeronaves: 4 pontos a vermelho relativos a 4 modelos actualmente detidos encontram-se abaixo da linha de tendência que se tem verificado na TAP - ou seja são mais eficientes do que os seus antecessores. O ponto que está junto à linha refere-se ao modelo A310 (com uma lotação de 201 passageiros, consome 6500 litros de Fuel por hora, o que permite percorrer 900 Km, com um consumo de 7,22 litros por Km). Em 2000 entrou ao serviço da companhia o A321, com muito melhor rendimento (194 passageiros, consumo de 3750 litros de Fuel por hora, para percorrer 900 Km).
Na semana passada foram conhecidas as intenções governamentais de suprimir as pausas na actividade dos professores no Natal, Carnaval e Páscoa, e de aumentar a actividade docente para 8 horas diárias.
Claire Guélaud recensia hoje (25 de Outubro) no jornal Le Monde uma obra do economista Patrick Artus e da jornalista Marie-Paule Virard, "Comment nous avons ruiné nos enfants" (La Découverte, 164 p., 12,50 €), em que os autores discutem o "pesadelo de 2030": "Leur thèse, solidement documentée, est simple : les politiques économiques et sociales conduites depuis le milieu des années 1970 n'ont pas préparé l'avenir, et à chaque nouvelle élection, il a fallu perdre du temps à en réparer les effets désastreux. Un exemple ? La relance budgétaire de septembre 1975 conduite par un certain Jacques Chirac débouche sur une explosion des dépenses publiques, bientôt suivie par une hausse de la pression fiscale et sociale qui aggravera le chômage. A peine installée au pouvoir, la gauche du premier septennat de François Mitterrand s'engage dans une autre politique de relance par les bas salaires et de hausse sans précédent des dépenses publiques. Elle se soldera par 12 % de chômeurs de plus en un an et s'achèvera par le fameux tournant de la rigueur de mars 1983. "Trente ans de stimulation têtue de la demande, alors que la population active allait diminuer, au lieu de privilégier l'investissement et l'appareil productif (...) ; cela s'appelle tout simplement une folie collective", écrivent-ils en relevant, à juste titre, que les grandes questions de long terme, "négligées depuis si longtemps", ont fini par nous rattraper". E os autores pensam sobretudo no envelhecimento da população, com os seus impactos na produtividade colectiva e na saúde pública. Conclusão: "Qu'on se rassure. Au terme de cette analyse fouillée des contradictions, des faiblesses et des impasses de l'économie et de la société françaises, les auteurs appellent à un sursaut. Mettre l'argent public au service de la croissance, soutenir les entreprises innovantes, réformer l'Etat, investir dans la recherche et l'éducation : autant de pistes indispensables que nombre de nos voisins, et tout récemment l'Espagne de José-Luis Zapatero, ont faites leurs. Faute de les emprunter, nos enfants et nos petits-enfants auront quelques raisons de nous reprocher de les avoir ruinés." (sublinhados meus).
Garry Kasparov esteve em Lisboa e deu entrevistas aos jornais, no seu papel de guru do pensamento estratégico. Explicou a necessidade de conhecer as nossas forças e fraquezas, assim como as do adversário, para conduzir o confronto para um terreno que nos é favorável. "Quando nós ganhamos o nosso opositor começa a ficar ansioso", cito de cor duma entrevista a Pedro Guerreiro e Elisabete Sá do Jornal de Negócios de quinta-feira. O mundo da estratégia de Kasparov é um mundo cão de zeros e uns, ou, para ser mais claro, de jogos de soma nula - se eu ganho o outro necessariamente perde. Não podemos ganhar os dois simultaneamente, embora de forma desigual, como acontece muitas vezes. E é um mundo transparente: o tabuleiro de xadrez mostra bem o confronto em curso. Pelo contrário, no jogo de estratégia africano ouri (Awalé ou woaley) a estratégia ofensiva Krou, em que um jogador acumula sementes numa casa para procurar infligir uma razia no seu opositor, o número de sementes acumuladas fica confuso. Apenas o "acumulador" pode mexer no seu krou, para contar as peças, ao passo que o opositor tem de contar por alto, com o olhar.