quarta-feira, setembro 27, 2006
sexta-feira, setembro 22, 2006
Batalhão de especialistas
Às vezes acho que há um batalhão de pessoas muito, muito inteligentes, espalhadas por essas empresas (públicas ou semi-públicas...), empenhadas em melhorar os serviços prestados à clientela. Por exemplo no metropolitano de Lisboa existem n propostas de tarifários - é um poster cheio de possibilidades.
Mas - e, enfim, há quase sempre um mas. Há uma ausência que dá nas vistas - é a do bilhete de um dia. E dá nas vistas porque em tempos esse bilhete era comercializado e agora existe apenas o bilhete de um dia mas para o binómio metro-carris, ao preço exorbitante de €3,80 (um bilhete de uma viagem de metro custa €0,70 e o de ida-e-volta fica por €1,20). Como se justifica esta insuficiência?!
Mas - e, enfim, há quase sempre um mas. Há uma ausência que dá nas vistas - é a do bilhete de um dia. E dá nas vistas porque em tempos esse bilhete era comercializado e agora existe apenas o bilhete de um dia mas para o binómio metro-carris, ao preço exorbitante de €3,80 (um bilhete de uma viagem de metro custa €0,70 e o de ida-e-volta fica por €1,20). Como se justifica esta insuficiência?!
terça-feira, setembro 19, 2006
SCUT - Pagar ou não pagar portagens? (II)
O jornal Público hoje faz uma recensão de um trabalho de Alfredo Marvão Pereira e Jorge Andraz sobre o financiamento das SCUT ("O impacto económico e orçamental do investimento em Scut"), num artigo de Pedro Ribeiro. O trabalho é publicado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento, presidido pelo Eng. João Cravinho, ministro das Obras Públicas nos governos do Eng. Guterres.
As sete SCUT em Portugal - Beira Interior, Beiras Litoral e Alta, Grande Porto, Litoral Norte, Costa da Prata, Algarve e Interior Norte, numa rede de 921 quilómetros - trouxeram uma boa melhoria da rede viária nacional, com benefícios para as regiões envolvidas e para as restantes regiões (os spillovers regionais).
Os autores concluem com um estudo econométrico que (1) o investimento nas SCUT é produtivo, gerando um acréscimo do PIB muito superior aos custos envolvidos e (2) o investimento paga-se a si mesmo, na medida em que os impostos induzidos são superiores aos encargos financeiros do Estado.
Mas há um detalhe menos amiguinho, segundo me pareceu. A saber: os encargos financeiros a arcar pelo Estado (7195 milhões de Euros) são basicamente o dobro do custo do investimento (3660 milhões de Euros), com valores a preços constantes de 1999. O que é que isto significa? Significa que a engenharia financeira contratualizada prejudica o Estado.
Admitamos o seguinte cenário - os encargos financeiros do Estado são amortizados durante 25 anos, com 5 anos de carência. Nesse caso o Estado tem uma responsabilidade anual de cerca de 360 milhões de Euros, a pagar de 2005 a 2024. Isto corresponde a uma TIR de 14% (admitindo uma taxa de inflação anual de 2%). É imenso! Se o financiamento das auto-estradas tivesse sido por dívida pública, a taxa de juro seria aproximadamente de 4%, o que daria um encargo anual de aproximadamente 183 milhões de Euros (valores ainda a preços constantes de 1999). "Segundo um estudo de 2005 do Tribunal de Contas, os encargos com as Scut serão este ano de 329 milhões de euros; em 2007 passarão para 589 milhões de euros" (citação do jornal).
Se todos os serviços publicos fossem financiados com a mesma lógica das SCUT, seria ncessário o dobro da despesa pública para financiar o Estado. Seria lindo!
Tentei encontrar o documento on-line mas sem sucesso. Parece que o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento não tem site na net.
Continuo a pensar que as ressalvas e as conclusões que redigi aqui se mantêm válidas.
Uma nota final: sou muito desconfiado dos estudos econométricos. Lembro-me sempre de uma reflexão do econometrista Stephen Hall: se porventura fosse feito um estudo econométrico (descuidado) dos hospitais de Londres, o melhor hospital seria considerado dos piores. Porquê? Porque os casos mais difíceis e desesperados vão lá parar e portanto esse hospital tem índices de mortalidade superiores à média.
As sete SCUT em Portugal - Beira Interior, Beiras Litoral e Alta, Grande Porto, Litoral Norte, Costa da Prata, Algarve e Interior Norte, numa rede de 921 quilómetros - trouxeram uma boa melhoria da rede viária nacional, com benefícios para as regiões envolvidas e para as restantes regiões (os spillovers regionais).
Os autores concluem com um estudo econométrico que (1) o investimento nas SCUT é produtivo, gerando um acréscimo do PIB muito superior aos custos envolvidos e (2) o investimento paga-se a si mesmo, na medida em que os impostos induzidos são superiores aos encargos financeiros do Estado.
Mas há um detalhe menos amiguinho, segundo me pareceu. A saber: os encargos financeiros a arcar pelo Estado (7195 milhões de Euros) são basicamente o dobro do custo do investimento (3660 milhões de Euros), com valores a preços constantes de 1999. O que é que isto significa? Significa que a engenharia financeira contratualizada prejudica o Estado.
Admitamos o seguinte cenário - os encargos financeiros do Estado são amortizados durante 25 anos, com 5 anos de carência. Nesse caso o Estado tem uma responsabilidade anual de cerca de 360 milhões de Euros, a pagar de 2005 a 2024. Isto corresponde a uma TIR de 14% (admitindo uma taxa de inflação anual de 2%). É imenso! Se o financiamento das auto-estradas tivesse sido por dívida pública, a taxa de juro seria aproximadamente de 4%, o que daria um encargo anual de aproximadamente 183 milhões de Euros (valores ainda a preços constantes de 1999). "Segundo um estudo de 2005 do Tribunal de Contas, os encargos com as Scut serão este ano de 329 milhões de euros; em 2007 passarão para 589 milhões de euros" (citação do jornal).
Se todos os serviços publicos fossem financiados com a mesma lógica das SCUT, seria ncessário o dobro da despesa pública para financiar o Estado. Seria lindo!
Tentei encontrar o documento on-line mas sem sucesso. Parece que o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento não tem site na net.
Continuo a pensar que as ressalvas e as conclusões que redigi aqui se mantêm válidas.
Uma nota final: sou muito desconfiado dos estudos econométricos. Lembro-me sempre de uma reflexão do econometrista Stephen Hall: se porventura fosse feito um estudo econométrico (descuidado) dos hospitais de Londres, o melhor hospital seria considerado dos piores. Porquê? Porque os casos mais difíceis e desesperados vão lá parar e portanto esse hospital tem índices de mortalidade superiores à média.
"Eu agora...
... deixei de ser estúpido", ouvi na rua, quando cruzei dois tipos que falavam. De vez em quando cada um de nós deixa de ser estúpido.
domingo, setembro 17, 2006
Posso fazer uma pergunta?
- Sr. Xavier(*) posso fazer uma pergunta?, perguntou a desbocada.
- Sim, se souber responder.
- O que aconteceu ao Sr. Pinto?
- O Sr. Pinto está para a terra, respondeu bruscamente o Sr. Xavier, virando costas.
- Está para a terra?!
- Sim, está a descansar, estava muito cansado. Agora está aqui o Sr. Rodrigo.
- Mas o Sr. Pinto já não volta?, insistiu a desbocada no seu papel de bobo da corte.
- Não, não volta.
Resumo: o Sr. Pinto trabalhou uma década na tasca do Sr. Xavier, não regressa no final das férias, e é como se nunca tivesse existido naquele espaço.
(*) - Alguns nomes foram alterados.
- Sim, se souber responder.
- O que aconteceu ao Sr. Pinto?
- O Sr. Pinto está para a terra, respondeu bruscamente o Sr. Xavier, virando costas.
- Está para a terra?!
- Sim, está a descansar, estava muito cansado. Agora está aqui o Sr. Rodrigo.
- Mas o Sr. Pinto já não volta?, insistiu a desbocada no seu papel de bobo da corte.
- Não, não volta.
Resumo: o Sr. Pinto trabalhou uma década na tasca do Sr. Xavier, não regressa no final das férias, e é como se nunca tivesse existido naquele espaço.
(*) - Alguns nomes foram alterados.
sábado, setembro 16, 2006
Probabilidades e Estatística - uma distinção
(...) A teoria das probabilidades é apenas um instrumento para determinar probabilidades de uma variedade de acontecimentos em função das probabilidades de outros acontecimentos. Em problemas físicos, as probabilidades admitidas têm de ser avaliadas nalgum momento, e isto apenas é possível através da experimentação ou da experiência baseada na experimentação. A ligação entre a teoria e a aplicação é o domínio da Estatística.
Athanasios Papoulis, Random variables and stochastic processes, McGraw-Hill, 1965, p. 258.
Athanasios Papoulis, Random variables and stochastic processes, McGraw-Hill, 1965, p. 258.
quinta-feira, setembro 14, 2006
Refer de parabéns!
"Cinco bancos compram à Refer dívida de curto prazo de 1,1 mil milhões - Consórcio é formado pelo Barclays, Caixa BI, HSBC, JP Morgan e Société Générale", lemos hoje no Jornal de Negócios num artigo de Celso Filipe.
A dívida de curto prazo da Refer foi eliminada, sendo que a dívida total da empresa ascendia a 3,97 mil milhões de Euros no exercício de 2005. Maravilhosos benfeitores que compram dívidas! Isto não é uma engenharia financeira, é um milagre financeiro. Vou já fazer uma série de compras e depois envio um email a este consórcio para me comprarem as dívidas.
O artigo é omisso sobre a recomposição do passivo da Refer, assim como sobre a alteração do custo dos capitais alheios desta empresa pública. Apenas se refere que esta "venda" vai facilitar o investimento dos 3 mil milhões de Euros previstos para o período de 2006 a 2013 na modernização da rede. O TGV não é citado, deve ser todo um mundo à parte.
Imagino que a quase totalidade das receitas da Refer advém da deficitária CP. Se a Refer cobrar mais pelos seus serviços melhora a sua exploração... mas a CP ressente-se. Se se decompusesse estas duas empresas em 50, cada uma teria apenas um pequeno défice de exploração. É só uma ideia.
Adenda
No Diário Económico de 17 de Novembro lemos um esclarecimento sobre a recomposição do passivo da Refer. Num artigo de Nuno Miguel Silva ( "A Refer com obrigações de 500 milhões sem o aval do Estado"): "A Refer arranca hoje com o ‘roadshow’ para promoção da segunda tranche do empréstimo obrigacionista global de 1,1 mil milhões de euros, emitindo 500 milhões de obrigações em regime ‘stand alone’, ou seja, sem recorrer ao aval do Estado. O Diário Económico apurou que a primeira fase do empréstimo, no montante de 600 milhões de euros, com uma maturidade de 20 anos e recorrendo ao aval do Estado, já foi integralmente colocada.A segunda tranche do empréstimo obrigacionista da Refer, no valor de 500 milhões de euros, avança a partir de hoje até sexta-feira próxima nas diversas praças financeiras europeias – Paris, Londres, Dublin, Frankfurt, Amesterdão e Madrid – e terá uma maturidade de 15 anos." Intrigantemente também se afirma: "Os responsáveis financeiros da Refer, nomeadamente o vice-presidente Alfredo Pereira, responsável por este pelouro, acredita que um bom equilíbrio entre estes dois tipos de empréstimos obrigacionistas será a melhor estratégia para atingir os objectivos de desenvolvimento da empresa a médio prazo. Como a Refer é uma empresa pública, cuja estratégia é concebida pelo Estado português, através do Ministério das Obras Públicas, beneficia de um ‘rating’ que as casas de notação internacionais entendem ser equivalente ao da própria República (Moody’s) [ 'rating' de 'Aa2' com um 'outlook' estável] ou poucos graus abaixo (Standard & Poors) ['A' com perspectiva estável]." Mas o grande desafio continua a ser o défice corrente de exploração (incluindo os encargos financeiros que se vão vencendo): "A Refer encerrou o primeiro semestre de 2006 com prejuízos de mais 101 milhões de euros. Nesse mesmo período, a facturação da empresa foi de 107 milhões de euros. Também deste montante, 107 milhões de euros, foi a rubrica dos custos operacionais. Desta forma, a Refer agravou o seu défice financeiro. Só nos últimos dois anos e meio, a empresa acumulou prejuízos de 415 milhões de euros. No final dos primeiros seis meses deste ano, o passivo da empresa ascendeu a 6.611 milhões de euros, dos quais 2.992 milhões de euros respeitam a dívida de médio e longo prazo e 1.246 milhões de euros eram dívida de curto prazo." Dificuldade a que acresce o "vasto programa de investimentos da empresa, que até 2009 está estimado em 1.382 milhões de euros".
A dívida de curto prazo da Refer foi eliminada, sendo que a dívida total da empresa ascendia a 3,97 mil milhões de Euros no exercício de 2005. Maravilhosos benfeitores que compram dívidas! Isto não é uma engenharia financeira, é um milagre financeiro. Vou já fazer uma série de compras e depois envio um email a este consórcio para me comprarem as dívidas.
O artigo é omisso sobre a recomposição do passivo da Refer, assim como sobre a alteração do custo dos capitais alheios desta empresa pública. Apenas se refere que esta "venda" vai facilitar o investimento dos 3 mil milhões de Euros previstos para o período de 2006 a 2013 na modernização da rede. O TGV não é citado, deve ser todo um mundo à parte.
Imagino que a quase totalidade das receitas da Refer advém da deficitária CP. Se a Refer cobrar mais pelos seus serviços melhora a sua exploração... mas a CP ressente-se. Se se decompusesse estas duas empresas em 50, cada uma teria apenas um pequeno défice de exploração. É só uma ideia.
Adenda
No Diário Económico de 17 de Novembro lemos um esclarecimento sobre a recomposição do passivo da Refer. Num artigo de Nuno Miguel Silva ( "A Refer com obrigações de 500 milhões sem o aval do Estado"): "A Refer arranca hoje com o ‘roadshow’ para promoção da segunda tranche do empréstimo obrigacionista global de 1,1 mil milhões de euros, emitindo 500 milhões de obrigações em regime ‘stand alone’, ou seja, sem recorrer ao aval do Estado. O Diário Económico apurou que a primeira fase do empréstimo, no montante de 600 milhões de euros, com uma maturidade de 20 anos e recorrendo ao aval do Estado, já foi integralmente colocada.A segunda tranche do empréstimo obrigacionista da Refer, no valor de 500 milhões de euros, avança a partir de hoje até sexta-feira próxima nas diversas praças financeiras europeias – Paris, Londres, Dublin, Frankfurt, Amesterdão e Madrid – e terá uma maturidade de 15 anos." Intrigantemente também se afirma: "Os responsáveis financeiros da Refer, nomeadamente o vice-presidente Alfredo Pereira, responsável por este pelouro, acredita que um bom equilíbrio entre estes dois tipos de empréstimos obrigacionistas será a melhor estratégia para atingir os objectivos de desenvolvimento da empresa a médio prazo. Como a Refer é uma empresa pública, cuja estratégia é concebida pelo Estado português, através do Ministério das Obras Públicas, beneficia de um ‘rating’ que as casas de notação internacionais entendem ser equivalente ao da própria República (Moody’s) [ 'rating' de 'Aa2' com um 'outlook' estável] ou poucos graus abaixo (Standard & Poors) ['A' com perspectiva estável]." Mas o grande desafio continua a ser o défice corrente de exploração (incluindo os encargos financeiros que se vão vencendo): "A Refer encerrou o primeiro semestre de 2006 com prejuízos de mais 101 milhões de euros. Nesse mesmo período, a facturação da empresa foi de 107 milhões de euros. Também deste montante, 107 milhões de euros, foi a rubrica dos custos operacionais. Desta forma, a Refer agravou o seu défice financeiro. Só nos últimos dois anos e meio, a empresa acumulou prejuízos de 415 milhões de euros. No final dos primeiros seis meses deste ano, o passivo da empresa ascendeu a 6.611 milhões de euros, dos quais 2.992 milhões de euros respeitam a dívida de médio e longo prazo e 1.246 milhões de euros eram dívida de curto prazo." Dificuldade a que acresce o "vasto programa de investimentos da empresa, que até 2009 está estimado em 1.382 milhões de euros".
quarta-feira, setembro 13, 2006
A racionalidade da ignorância do eleitorado
If all others express their true views, he [the voter] gets the benefit of a well-informed electorate no matter how well-informed he is; if they are badly informed, he cannot produce those benefits himself. Therefore, as in all cases of individual benefits, the individual is motivated to shirk his share of the costs: he refuses to get enough information to discover his true views. Since all men do this, the election does not reflect the true consent of the governed.
Anthony Downs, An Economic Theory of Democracy, HarperCollins Publishers, NewYork, 1957, p.246, citado por César Martinelli em Would rational voters acquire costly information?, Journal of Economic Theory, vol. 129, July 2006, 225 – 251.
César Martinelli mostra no artigo citado que a observação de Downs pode não ter o efeito devastador previsto, na medida em que "(...) se o custo marginal da informação é próximo de zero para informação quase sem importância, existe uma sucessão de equilíbrios tal que o resultado da eleição corresponde com verosimilhança aos interesses da maioria do eleitorado composto por um número arbitrariamente grande de votantes. Assim, votantes "racionalmente ignorantes" são consistentes com um eleitorado bem informado." Nestas circunstâncias o teorema do juri de Condorcet é verificado - um juri mais numeroso tende a seleccionar a opção certa.
Sobre o elogio da diversidade de opiniões - tema actual, quando o Presidente da República recomenda consensos - veja-se o post «O Jurado "cara ou coroa?"», disponível aqui.
Anthony Downs, An Economic Theory of Democracy, HarperCollins Publishers, NewYork, 1957, p.246, citado por César Martinelli em Would rational voters acquire costly information?, Journal of Economic Theory, vol. 129, July 2006, 225 – 251.
César Martinelli mostra no artigo citado que a observação de Downs pode não ter o efeito devastador previsto, na medida em que "(...) se o custo marginal da informação é próximo de zero para informação quase sem importância, existe uma sucessão de equilíbrios tal que o resultado da eleição corresponde com verosimilhança aos interesses da maioria do eleitorado composto por um número arbitrariamente grande de votantes. Assim, votantes "racionalmente ignorantes" são consistentes com um eleitorado bem informado." Nestas circunstâncias o teorema do juri de Condorcet é verificado - um juri mais numeroso tende a seleccionar a opção certa.
Sobre o elogio da diversidade de opiniões - tema actual, quando o Presidente da República recomenda consensos - veja-se o post «O Jurado "cara ou coroa?"», disponível aqui.
quarta-feira, setembro 06, 2006
Dignidade
Manteve-se debaixo da mesa, sossegado, enquanto as pessoas falavam. Por fim levantou-se, deu uns passos, sacudiu-se como se tivesse o pêlo molhado, e saiu à frente da dona, com passos resolutos. Parecia ter consciência que pisava um espaço hostil, onde com frequência é obrigado a esperar na rua. Era elegante, digno. Digno?! Mas quando é que um cão perde a dignidade? E uma pessoa?...
terça-feira, setembro 05, 2006
Regicídio português
No sábado participei numa visita organizada pela Hemeroteca Municipal de Lisboa aos locais relacionados com o assassinato do Rei D. Carlos I e do Príncipe herdeiro D. Luís Filipe: o Terreiro do Paço, a Casa da Balança e a Capela do Arsenal da Marinha e a Praça do Município. A família real acabara de chegar ao Cais das Colunas vinda de Vila Viçosa e circulava num carro aberto quando Manuel Buiça e Alfredo Costa abrem fogo. Primeiro Buiça com uma espingarda e só depois surge Alfredo Costa com um revolver. O Príncipe D. Luís ainda se defende com um revolver, mas acaba ferido mortalmente. O seu pai teve morte imediata. D. Manuel fica ferido num braço. O percurso da família real é reconstituido por Elisabete Rocha, a cicerone da visita, a partir de um diário de D. Manuel II, disponível aqui.
Da exposição cuidadosa de Elisabete Rocha fica realçado o ambiente de insegurança no Terreiro do Paço. A Polícia e a Guarda Real estiveram ausentes durante os momentos fulcrais - e fica a imagem da angústia da Rainha D. Amélia com um ramo de flores que transportava no colo a insugir-se contra os assassinos. João Franco foi imediatamente demitido quando D. Manuel II tomou o trono.
A selvajaria aconteceu a a 1 de Fevereiro de 1908. A visita ajuda-nos a reflectir sobre o nosso colectivo, agora que estamos perto do centenário do regicídio.
Da exposição cuidadosa de Elisabete Rocha fica realçado o ambiente de insegurança no Terreiro do Paço. A Polícia e a Guarda Real estiveram ausentes durante os momentos fulcrais - e fica a imagem da angústia da Rainha D. Amélia com um ramo de flores que transportava no colo a insugir-se contra os assassinos. João Franco foi imediatamente demitido quando D. Manuel II tomou o trono.
A selvajaria aconteceu a a 1 de Fevereiro de 1908. A visita ajuda-nos a reflectir sobre o nosso colectivo, agora que estamos perto do centenário do regicídio.
domingo, setembro 03, 2006
Mulholland drive
Revi o Mulholland Drive (2001) de David Lynch. Para o filme fazer algum sentido acho que é preciso admitir que são contadas duas histórias, muito mais entrelaçadas do que no cartesiano Smoking/No Smoking de Alain Resnais. Resta ao espectador escolher qual lhe parece mais verosímil: a história boa, ou a história danada.